(4ª parte da entrevista com Jack White publicada na "Blitz")
Detroit,
na história pessoal de Jack White e na própria biografia da cidade, chegaria ao
fim. Já em decadência antes, e definitivamente devastada pela rebentada bolha
assassina do “subprime”, em 2008, a “motortown”, capital mundial da indústria
automóvel, transformou-se em quase cidade-fantasma, habitada por pouco mais do
que espectros da história do século XX. Nos EUA, as maiores cidades morrem como
minúsculas aldeias e – imagens, imagens, imagens sempre –, agora, é a vez de caber
a The Ruins of Detroit
– colecção de fotografias de Yves Marchand e Romain Meffre, contendo “todos os
edifícios arquetípicos de uma grande cidade americana em estado de mumificação”)
o papel de exibir os deslumbrantes e paralisantes testemunhos iconográficos de
tão “esplêndidos monumentos em decadência, tal como as pirâmides do Egipto, o
Coliseu de Roma, ou a Acrópole de Atenas, destroços não menos significativos da
queda de um grande império”.
No entanto, já em 2006, White trocara Detroit por Nashville, em conflito com a cena musical local:
No entanto, já em 2006, White trocara Detroit por Nashville, em conflito com a cena musical local:
“Tinha-se tornado demasiado cínica e
negativa. Sentia-me odiado, indesejado, desencorajado. É a cidade em que cresci
e, até me ter tornado famoso, nunca me tinha acontecido tal coisa. Parecia que
ninguém nos queria por lá. Era horrível, não podia ir a um bar, não podia ir a
concertos, um autêntico desastre. Não conseguia de todo continuar a viver e a criar
ali, era uma coisa incrível. Tive, por isso, de procurar outro lugar para
viver. O que não é fácil quando isso significa abandonar a nossa própria
cidade. Não porque o desejemos mas porque nos forçam a isso”.
Apesar de ser um indígena de Detroit que
sempre confessou não ter especial afeição pela música da Tamla Motown, a cidade
– mesmo que, agora, Nashville se esforce por mimá-lo, nomeando-o embaixador
musical (“Foi uma decisão do mayor e,
sem dúvida, um gesto de apoio muito simpático“) – há-de ter-lhe ficado agarrada
à pele...
“Evidentemente que sim. Quando criamos alguma coisa e não desistimos nunca de o fazer, acabamos por ser vítimas do ambiente em que vivemos. E isso é igual quer vivamos em Inglaterra, no Japão ou na Lua. O sítio em que crescemos inspira-nos das mais variadas formas. Detroit influenciou-me de um modo que nunca poderia ter sido igual caso vivesse, por exemplo, na Califórnia”.
Mas parece-lhe que a cidade pode começar a
reerguer-se?
“Não. As infraestruturas estão arrasadas e
a atitude positiva de reconstrução pura e simplesmente não existe. Chamam-lhe
uma cidade em renascimento mas não está a acontecer renascimento nenhum porque
a atitude que prevalece é a pior possível”.
1 comment:
a propósito do último parágrafo, um doc decente com 26 mins sobre o antes e o agora em detroit - http://vimeo.com/couchmode/user930546/videos/sort:date/2371774
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