27 November 2007

QUIMERA


The Fiery Furnaces - Widow City

A mitologia grega dá muito jeito. Recordemos: a “quimera” era uma monstruosa criatura feita de diversas partes de múltiplos animais – leão, serpente, dragão, bode –, presumivelmente feminina, cujo avistamento prenunciava indesejáveis calamidades.



Ficamos, assim, preparados para travar conhecimento com Eleanor e Matthew Friedberger (o par de irmãos que constitui os Fiery Furnaces), prolíficos criadores do que, de agora em diante, passará a ser designado como “quimera-pop-rock”.



Quinto álbum desde a estreia em 2003 (com Gallowsbird's Bark), Widow City poderá ser a sua menos inacessível gravação ou até aquela que estabelece alguma relação com a pop tal como a conhecemos, mas nem por isso abdica da sua natureza de objecto sonoro improvavelmente identificável: uma caótica geometria que (des)organiza cacos de Led Zeppelin, nacos estropiados de psicadelismo à maneira dos Beatles de “Strawberry Fields”, meia dúzia de vísceras aleatoriamente recolhidas dos Devo, dos Residents ou de Brian Eno, solos de guitarra como esferovite sobre vidro e refrões Dada-Burroughs da laia de “Now that clearly didn’t happen, I consulted my Egyptian Grammar, on page 428 was the hieroglyph for French Canal Boat”. Precioso.
(2007)

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