13 July 2007

ARQUITECTURA
 
  
    
The Gist - Embrace The Herd 
 
Se me fizessem um daqueles pedidos invariavelmente absurdos para escolher os meus três discos dos anos 80, depois de meditar séria e longamente durante um segundo, provavelmente responderia Colossal Youth, dos Young Marble Giants, La Varieté, dos Weekend, e Embrace The Herd, dos Gist. Uma hora depois, diria, de certeza, qualquer outra coisa diferente mas, em cada dez oportunidades, nove iriam inevitavelmente parar aí. Tem, indiscutivelmente, a vantagem da coerência familiar. Foi dos Young Marble Giants que descenderam os Weekend (e, posteriormente, os Working Week) e os Gist e, em todos eles, estava presente aquela especialíssima disciplina espartana que os amarrava a, nunca por nunca, dizer mais do que o estrita e absolutamente necessário mesmo que, para isso, fosse necessário correr o risco de serem acusados de infantilismo musical. Os Gist (dos irmãos Stuart e Phil Moxham) foram a consequência directa dos YMG após a dissolução do grupo-pai. Enquanto Alison Statton descobria o sol e os trópicos na companhia dos Weekend, com Embrace The Herd, os manos galeses - em rigor: Stuart, com episódico apoio de Phil - prosseguiam a aventura de nunca escrever uma canção com seis acordes se três chegavam perfeitamente, limitar a paleta instrumental a lacónicas guitarras, baixo, percussão invisível e um tecladozeco analógico e, a partir daí, reinventar a pop a partir dos despojos que, anos atrás, os seus antepassados punk, tinham deixado no terreiro de batalha depois de pôr as tripas de fora ao esclerótico "establishment" musical da época. O que ficou em mais um disco único (em todos os sentidos) foram, então, doze fascinantes exercícios de pura geometria minimalista onde nenhuma peça pode ser deslocada sem modificar drasticamente a lógica do conjunto — quer isto dizer que nenhum destes temas admite a menor possibilidade de versões embora o conceito de "remix" já seja admissível — nem abalar a consistência do edifício sonoro. Pura inteligência ao serviço da arquitectura da canção (estou até intimamente convencido que a ideia irá mais longe: à excepção de mim, todos os fãs dos YMG/Gist foram mesmo arquitectos "et pour cause") que ainda hoje ecoa, quer eles saibam ou não, nos Stereolab e em certo trip-hop mais descarnado. E, a propósito, "Love At First Sight" (aqui no registo original e na encarnação "demo" incluida nas quatro "bonus tracks") é uma das grandes canções pop de sempre. (1999)

3 comments:

Anonymous said...

muitos parabéns e agradecimentos pelos contactos que nos tem proporcionado.

penso que estaria na altura de estabelecer um que penso ser essencial e marcante : Peter Joseph Andrew Hammill.

importa, mais que contacta-lo, frequentá-lo, antes que seja tarde demais e se escrevam apenas simples linhas de epitáfios.

um abraço, mil obrigados.

Ela said...

adorei o blog.
vou adiciona-lo aos nossos links!
abração!

João Lisboa said...

Danke.