26 January 2021

MOLÉCULAS PRIMORDIAIS
 
 
Alison Statton e os irmãos Stuart e Phil Moxham eram o género de putos que, em 1980, até na Rough Trade — acabadinha de fundar e com imaculadíssima reputação indie — se sentiam como peixe fora de água: “Eu tinha 24 anos quando começámos a fazer música e não fazia a menor ideia do que iria ser a minha vida. Vivíamos em Cardiff que, na verdade, não existia no mapa da música, havia enormes obstáculos para ultrapassar. A solução foi fazer o oposto do que todos, à época, faziam e ver o que daí resultava. Mesmo quando nos mudámos para Londres, não nos sentíamos à vontade. Na Rough Trade, acolheram-nos de braços abertos, mas não éramos como nenhuma outra banda, sentíamo-nos de fora”, dizia Stuart, em 2015, à “Uncut”.

 
O “oposto do que se fazia” foi pegar numa guitarra, num baixo, num rudimentar órgão Galanti, numa "drum machine" (construída pelo primo, Pete Joyce, a partir de um artigo da  “Practical Wireless Magazine”), na voz de Alison (“A Alison não é uma cantora! Ela é só uma pessoa que canta como se estivesse na paragem, à espera do autocarro”, jurava Stuart a Simon Reynolds, em Rip It Up and Start Again) e, sob o nome Young Marble Giants, num único álbum — Colossal Youth, 1980 —, redefinir radicalmente o rumo da música: reduzida à essência das moléculas primordiais, pura geometria sonora apenas um passo à frente do silêncio, em 15 canções de que apenas três iam além dos 3 minutos. Colossal Youth — 40th Anniversary Edition reúne as provas do milagre tal como já se encontravam na reedição da Domino, de 2007, e acrescenta-lhes o registo do concerto final do trio, no Hurrah Club de Nova Iorque, em novembro de 1980. (...) (daqui: + aqui)

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