skip to main |
skip to sidebar
"Nós, professores, já não lemos. Nem sequer estudamos. Estamos demasiado ocupados em escrever e em explicar o que supostamente deveríamos ter lido, mas as horas de enriquecimento cultural e de reflexão foram praticamente desterradas do trabalho universitário (...). Se um investigador, por exemplo um filólogo, quiser pedir um financiamento para um projecto, o primeiro obstáculo que encontra é um muro de palavras absurdas: sinergias, interdisciplinaridade, disrupção... (...) pressupostos que na sua origem parecem provir das ciências experimentais ou aplicadas, mas que, no entanto, traduzem mais a verborreia alucinada do fundador de uma 'startup'. Tudo são 'desafios', 'talentos' das 'sociedades inclusivas´ e outros títulos que demonstram preocupação, e que alternam, com tons contraditórios, entre o messiânico e o apocalíptico, ainda que coincidam sempre em tomar o futuro como ideologia. (...) Desde há demasiado tempo que temos querido converter a universidade num absurdo que conjuga os piores delírios do activismo simplório com os abusos da produção capitalista. A prestação de contas que, até certo ponto, é razoável, tornou-se na única prioridade, até converter-nos em peritos em prestar contas do que nunca aconteceu. A nossa obsessão pela eficácia acabou por nos condenar à pior ineficácia. Investimos milhões a criar redes de conhecimento internacional, congressos e publicações ao mesmo tempo que somos incapazes de conseguir o mais imprescindível: tempo. Tempo para o silêncio, o estudo e a leitura. Tudo o que não seja isso é fumaça"
No comments:
Post a Comment