"Bernice Bobs Her Hair" (de Liberation, na íntegra aqui)
(sequência daqui) Com os dois colegas em fuga à penúria, refugiou-se no sótão da casa dos pais no Ulster e escreveu, escreveu, escreveu, compôs, compôs, compôs (“Sofreram muito os meus país, sofreram mesmo”). Keith Cullen acabaria por contactá-lo e, perante a desconcertante pergunta “Então, vais fazer alguma coisa ou é para esquecer?”, atirou “Tenho o álbum aqui prontinho! É o novo Sgt. Pepper! Quando posso começar a gravá-lo?” Foi assim que, num estúdio baratucho de Londres, com um engenheiro de som acumulando com a função de baterista e Neil responsável por todos os outros instrumentos, surgiu Liberation: “O mais espantoso é ter havido algumas pessoas que o compraram. Os franceses, em especial, gostaram bastante dele. Já tínhamos um ponto de apoio nessa frente”. Seria por essa altura que começaria a compreender aquela que se tornou a sua regra de ouro: “Há apenas dois ingredientes indispensáveis para quem pretende criar música interessante: conhecimento e ignorância. O conhecimento é importante porque é necessário sentir que possuimos alguma coisa que desejamos transmitir. Mas a ignorância é, pelo menos tão importante porque, ao falhar na busca de uma certa sonoridade ou na imitação da nossa banda preferida, algo de original acontece nesse processo. Se tivéssemos a noção de quão pouco sabíamos no princípio, talvez nunca conseguíssemos reunir a coragem suficiente para sequer tentar”. Nesse percurso de imitação/aprendizagem, passou por Scott Walker (“Ele foi incrivelmente importante, embora isso nem sempre seja evidente na minha música. Foi quando me mudei pela primeira vez para Londres que vi, na televisão, ‘The Best of Scott Walker and the Walker Brothers’ e ouvi aquela voz... fiquei apanhado. Era o mais espantoso som que já tinha ouvido a sair da boca de alguém. No dia seguinte, fui comprar logo a cassete e escutei-a até ao vómito. Tudo nela abalroou o meu mundo”.
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