LADO NENHUM
Quando, há algumas semanas, se desencadeou a polémica acerca da legitimidade – étnica e de género – a exigir aos candidatos a tradutores do poema “The Hill We Climb”, lido pela autora, Amanda Gorman, durante a cerimónia de tomada de posse de Joe Biden, ninguém se lembrou de colocar as patrulhas do tribalismo identitário perante o enigma Jimi Hendrix: sem cair no papel de vítima ou agente activo de “apropriação cultural”, com que voz, haveria de exprimir-se o sobrenatural guitarrista de tripla origem afro-americana, irlandesa e cherokee? Se, para ser autorizado a aproximar-se do texto de Amanda, seria praticamente imprescindível ser um clone dela, o que fazer quando, logo à partida, a identidade – seja isso o que for – é múltipla e indivisível? A começar pelo próprio título, Nowhere Sounds Lovely, o álbum de estreia de Cristina Vane é mais uma preciosa acha para alimentar essa fogueira: nascida em Itália de pai ítalo-americano e mãe guatemalteca, cresceu e estudou entre Itália, França e Inglaterra, e, aos 18 anos, viajou para os EUA onde, na universidade de Princeton, se licenciaria em Literatura Comparada. (daqui; segue para aqui)
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