Em Maio de 2018, cinco anos após a publicação de Modern Vampires of the City, Ezra Koenig anunciou ao mundo que, o novo álbum dos Vampire Weekend (intitulado “Mitsubishi Macchiato”) estava “94.5% concluído”. Aparentemente, os 5.5% que faltavam terão sido os mais difíceis uma vez que foram necessários outros doze meses para que o afinal designado Father of the Bride fosse publicado. Se, no início, terá estado uma interrogação essencial – “Porque precisaria o mundo de mais um capítulo nesta história?” –, na verdade, como explicou Koenig ao “New Musical Express”, ter-se-á tratado apenas de converter em modus operandi viável o velho lema de dar tempo ao tempo: “Por vezes, tenho a sensação que devo começar a trabalhar muito rapidamente, outras vezes parece-me que posso ir mais repousadamente. Quando temos um problema para resolver, primeiro, pensamos muito nele e, depois, conscientemente, metemo-lo na gaveta. Vemos televisão, vamos passear o cão, e, de súbito, a solução aparece. É a música que nos guia”. E a solução surgiu em tal abundância que chegou a ser considerada a possibilidade de assumir a forma de dois álbuns duplos com 23 canções cada, “uma espécie de mapa do genoma humano”.
Father of the Bride (entre várias outras pistas, obliquamente inspirado no filme homónimo, de 1991, com Steve Martin e Diane Keaton, remake do de Vincente Minnelli, de 1950, com Spencer Tracy e Elizabeth Taylor), acabaria por se ficar pela duração de uma hora e 18 faixas, algumas de um minuto e picos, outras, chegando aos cinco: “Umas são ensaios, outras são haikus. Neste momento, 10 ou 12 canções já não nos chegam. Se fosse mais curto, teríamos de deixar de fora momentos importantes”.
Na verdade, depois da saída do fundador Rostam Batmanglij, a necessária reconfiguração da banda – agora, Koenig, Chris Baio, Chris Tomson e, em palco, mais quatro músicos que se ocupam de, pelo menos, quatro teclados e duas baterias – teve de se acomodar às múltiplas actividades extracurriculares de Ezra: o programa bissemanal, “Time Crisis”, na Apple's Beats 1 radio (política, História e erudição pop), a criação da série de animação americano-nipónica da Netflix, Neo Yokio (fantasia e metáfora política com as vozes de Jude Law, Susan Sarandon e Jason Schwartzman), a participação na banda sonora de Peter Rabbit e o apoio à candidatura presidencial de Bernie Sanders.
De certo modo, tudo isto se reflecte naquilo que Father of the Bride veio a ser: a sua natureza profunda de “livro de recortes” e "bits and pieces", o intrincado jogo de referências cruzadas e pistas (mais ou menos) ocultas, o delicado equilíbrio entre frivolidades e comentário socialmente atento. Por vezes, em simultâneo: "Harmony Hall" combina o olhar desencantado sobre a América de Trump (“And the stone walls of Harmony Hall bear witness, anybody with a worried mind could never forgive the sight of wicked snakes inside a place you thought was dignified") com a constatação da impossibilidade de não tomar posição (“Anger wants a voice, voices wanna sing, singers harmonize 'til they can't hear anything, I thought that I was free from all that questionin' but every time a problem ends, another one begins”), a ácida alusão à identidade judaica (“Beneath these velvet gloves, I hide the shameful crooked hands of money lender, ‘cause I still remember”) e a piscadela de olho auto-referencial (“I don't wanna live like this, but I don't wanna die”, picada de "Finger Back", do album anterior).
Escute-se com a máxima atenção e uma lupa auditiva e, pelo meio da falsa simplicidade deste sofisticado exercício pop urdido com a cumplicidade de Danielle Haim, Jenny Lewis e Jake Longstreth, tropeçarão ainda em Jerry Garcia, Van Morrison, Albert Hammond, Haruomi Hosono, Hans Zimmer, a Declaração de Balfour, de 1917, ou a supremacia branca. Para Koenig, apenas uma pura evidência e inevitabilidade: “Por vezes, a crítica não é necessária, basta mostrar a realidade através de uma lente. Cada álbum fala do seu tempo, reflecte um momento histórico e a relação que com ele temos. Deliberadamente ou não”.
2 comments:
Tem calmaaaaaaaaaaa, ok?
Escreve devagarinho e pensa mais lentamente, que a tua inteligência profícua rebenta com os miolos de quem passa o dia a escutar 3/4 de merda :P
:)
P.S. já não há respeito pela indigência quotidiana de outrem........
Foi escrito muito devagarinho. Em três dias.
:-)
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