06 June 2017

ASCENDER


Molly Drake nasceu, em 1915, na Birmânia. Era filha de Sir Idwal Lloyd e Georgie Lloyd, ambos membros das forças militares do império britânico. Estudou em Inglaterra mas regressaria a Rangum onde se casaria com Rodney Drake em 1937. A invasão japonesa, em 1942, obrigá-la-ia a fugir, a pé, para Deli, na Índia, aí permanecendo até perto do final da segunda guerra mundial. De volta a Rangum, teria a primeira filha, Gabrielle, e quatro anos depois, um filho, Nick (futuro autor de uma curta e sublime discografiaFive Leaves Left (1969), Bryter Layter (1971) e Pink Moon (1972) – depressivo profundo que, aos 26 anos, se suicidaria). Finalmente, em 1952, a família mudou-se para Inglaterra, residindo em Tanworth-in-Arden, no Warwickshire, não longe da shakespeareana Stratford-upon-Avon, onde desfrutaria de uma confortável vida "upper-middle-class". Não era segredo que Molly, para a família e amigos, tocava piano e interpretava canções que, informalmente, compunha sem qualquer ambição de alguma vez as gravar ou publicar. Foi apenas há dez anos, aquando da edição de Family Tree – uma compilação de gravações caseiras de Nick Drake –, que, pela primeira vez se escutaram duas canções de Molly, "Do You Ever Remember?" e "Poor Mum". 



Essas duas e mais dezassete surgiriam, depois, no CD Molly Drake (2013), recolha de canções e poemas a partir dos registos de Rodney Drake num gravador Ferrograph. Rachel e Becky Unthank, na qualidade de “cantoras folk com alma de pega”, escutaram o álbum e, “perante aquela arca de tesouros” sentiram, de imediato, que não poderiam esquivar-se a fazer algo com elas. Seria, aliás, mais uma óptima peça no puzzle da discografia paralela das Unthanks: a série “Diversions” que já inclui os volumes The Songs of Robert Wyatt and Antony & the Johnsons (2011), The Unthanks with Brighouse and Rastrick Brass Band (2012) e Songs from the Shipyards (2012). The Songs And Poems Of Molly Drake é, então – com a colaboração de Gabrielle Drake que lê os poemas –, o lugar onde, nas vozes de Rachel e Becky e nos detalhados e subtis arranjos de Adrian McNally, a sombria melancolia "naïve" das palavras e melodias de Molly Drake ganha profundidade, relevo e espessura harmónica. Ela que, morta em 1993, fez inscrever na lápide tumular “And now we rise, and we are everywhere”, de "From The Morning", de Nick Drake.

2 comments:

t. said...

Não me leve a mal o apontamento mas creio que o Nick Drake morreu aos 26 anos (e não os 34 mencionados). Já tinha dito tudo (e muito mais do que quase todos).

João Lisboa said...

Claro que não levo a mal, estou sempre a desejar que me corrijam os disparates.

E tem toda a razão. Segundo a Wikicoisa, https://en.wikipedia.org/wiki/Nick_Drake, as datas de nascimento e morte são "19 June 1948 – 25 November 1974".

Não sei como fiz as contas mas, que fique registado para a posteridade, a minha competência aritmética - nem sequer matemática - é abaixo de protozoário.

Obrigado (vou já emendar).