27 January 2016

MOSAICO

  
Houve sempre muito cinema na música dos Tindersticks e bastante música dos Tindersticks no cinema. Em 2011, a propósito da publicação da caixa Claire Denis Film Scores 1996–2009 com as bandas sonoras do grupo para seis filmes da realizadora francesa (White Material, 35 Rhums, L’Intrus, Vendredi Soir, Trouble Every Day e Nénette Et Boni), Stuart Staples confessava mesmo que “quando encontrei o David Boulter, três ou quatro anos antes de termos constituído os Tindersticks, o que nos atraiu foi o universo das bandas sonoras para cinema”. Bem mais do que a de diversos outros com idênticas ambições, a música da banda de Nottingham – quando ainda não imaginava sequer poder vir a ter autorização para ver-se projectada nos ecrãs –, na sua natureza mais profunda, aspirava à condição do "film noir", em todas as suas variantes e declinações. Não é, por isso, motivo para surpresa que a relação quase monogâmica com Denis se tenha estabelecido (e prolongado, em 2013, com as atmosferas electrónicas de Les Salauds), alargado à colaboração com Suzanne Osborne na vídeo-instalação Singing Skies ou, paralelamente, com o Museu da Primeira Guerra Mundial, de Ypres, na Bélgica, através da criação de música para a sua exposição permanente. 



E, agora, The Waiting Room, projecto audiovisual total concebido como parcela do programa do Festival de Curtas Metragens de Clermont-Ferrand, no âmbito do qual, para cada uma das canções do álbum homónimo, foi encomendado um vídeo aos realizadores Christoph Girardet, Pierre Vinour, Rosie Pedlow, Joe King, Gregorio Graziosi, David Reeve, Gabraz, Claire Denis, Suzanne Osborne, Sara Não Tem Nome e ao próprio Stuart Staples. É nessa exacta dimensão de peça mosaico que o disco-filme exige ser apreciado: um encadeamento não-narrativo de momentos singulares que, numa lógica de "cadavre exquis", e com o discreto descentramento jazzístico dos arranjos de Julian Siegel, se abre a uma infinidade de sentidos. Da puríssima beleza hopperiana de “Hey Lucinda” (com Lhasa de Sela), à rude estranheza de “We Are Dreamers!”, ao desfile de animais embalsamados sobre a amável melancolia de “Like Only Lovers Can”, ao jogo de luz e sombra de “Follow Me” à volta de uma melodia de Bronislaw Kaper para Revolta na Bounty.

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