25 February 2015

O PEQUENO MILAGRE

  
Há semanas, no espanhol “El Confidencial”, Carlos Prieto escrevia: “Chegou 2015, o ano em que tudo ou nada poderia mudar para sempre, e ocorreu um pequeno milagre cultural: os economistas convertidos em ícones pop”. Exemplificava, a seguir, com a visita recente de Thomas Piketty, autor de “O Capital No Século XXI” – coisa “próxima da ‘beatlemania’” –, e com o aparecimento do novo ministro das finanças grego, Yanis Varoufakis, sublinhando “a sua pinta mais de estrela do rock que de economista”, “o seu aspecto de quem acaba de sair de um concerto”, bem como o facto de ser casado com a notória artista plástica, Danae Stratou, e de, acima de tudo, impor-se instantaneamente “na qualidade de "sex-symbol", algo que não abunda na esquerda europeia”. Será, porventura, apressado traduzir já a velha categoria de "groupie" para "varoufuckie" – elas, contudo, existem e não se escondem – mas o fulgurante “pequeno milagre cultural” tornar-se-á mais evidente se repararmos, por exemplo, na contrastante história de uma banda como os Wave Pictures: década e meia de actividade à média de um álbum por ano, mais cerca de duas dezenas de álbuns “de homenagem”, colaborações e compilações e outros tantos singles e EP, e onde chegaram eles?


Não muito mais longe do que ao estatuto do velho economista manga-de-alpaca, popular entre os colegas da empresa e anónimo para o resto do universo. Canções e álbuns óptimos como Long Black Cars (2012), Beer In The Breakers (2011) ou If You Leave It Alone (2009) não têm escasseado mas, dificilmente, David Tattersall, Franic Rozycki e Jonny Helm se verão alguma vez assediados por multidões de "varoufuckies". Great Big Flamingo Burning Moon é tão excelente e peculiar quanto os anteriores – a canção-título fala do flamingo que Tattersall viu desenhado “sobre uma enorme lua em fogo, suspensa sobre o céu de Portugal” –, com o bónus de ter sido gravado em parceria com o lendário figurão-poeta-artista-fotógrafo-punk-agitador-lunático, Billy Childish. Reivindica como seus os Who, Troggs, Creedence Clearwater (dos quais interpreta "Sinister Purpose" e "Green River") e Modern Lovers mas não faz segredo de que ambiciona as cátedras de Morrissey e Jarvis Cocker. Bom trabalho lá no escritório, rapazes!

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