11 February 2012

O nosso declínio veste Prada *



"No fundo, a Europa sente-se humilhada. Tornou-se a anedota do mundo. Está falida, falhada e fechada na cave onde já foi feliz. É a China, é claro. É a China, é o Qatar, são as prodigiosas ditaduras petrolíferas. E é, em Portugal, o Brasil e Angola. Sim, Angola, como bem disse Martin Schulz. A Europa está a ser comprada, Portugal está a ser vendido. A propriedade. E um modo de vida. (...) O FMI vai pedir dinheiro ao Brasil para a Europa, a Europa suplica apoio à China. Depois, fica incomodada com esse dinheiro se, em vez de ajuda, é investimento. A ingenuidade é enternecedora. O caminho não tem retorno. A Europa é o aristocrata falido que começa a vender os ouros com enfado e acaba a pedir um abrigo digno a quem lhe compra a casa hipotecada. Só agora é que se apercebeu da evidência? A China pode tornar-se a maior potência mundial ainda nesta década.

Agora Portugal. Sem proselitismos, entronizámos o investimento chinês. Ainda bem. E procuramos salvação nessa geografia que é a lusofonia, que tem no Brasil e em Angola (e doravante em Moçambique) o destino das nossas necessidades e ansiedades. Ontem, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, falou de Angola, e fez bem. Fez muito bem. Só uma ferida aberta dói quando se lhe põe dedo. Angola é uma oportunidade e é um problema. A oportunidade é o investimento, a exportação, o comércio, o dinheiro. O problema é a opacidade dos investidores, atrás de cortinas impenetráveis baseadas em paraísos fiscais financiados por bancos portugueses. O problema são os desequilíbrios políticos, as contrapartidas, a falta de vistos e de pagamentos. O problema é a forma pacata e temente como vemos Angola comprar os centros de poder da banca e da comunicação social sem um só pronúncio de exaltação. Há demasiado medo em fazer perguntas a outros que não hesitamos em fazer a nós mesmos. De onde vem o dinheiro? Ao que vêm? Deviam ser perguntas simples, não ofensivas". (Pedro Santos Guerreiro no "Jornal de Negócios")

* Teste: o Rosa Mendes pode (mas o Relvas acha que não devia); o Schultz não pode; o Pedro Santos Guerreiro pode ou não?

(2012)

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