13 April 2011

CAMURÇA


















Iron & Wine - Kiss Each Other Clean

Desde há muito que os Crosby, Stills & Nash (com ou sem Neil Young) nos deviam um disco assim. Na verdade, e reflectindo bem sobre o assunto, uma dívida com quarenta e um anos começados a contar a partir do momento em que Déjà Vu foi publicado. Porque, daí em diante, nenhum autêntico admirador da banda se reconheceu realmente na discografia posterior que veio ao mundo, apesar de nela se poder ainda ler a mesma assinatura. E, mesmo levando em conta as diversas trajectórias a solo – um David Crosby a meio caminho entre Júpiter e o "dealer" local, Graham Nash dividido pelo activismo antinuclear e a fotografia digital, e Stephen Stills dedicado à militância política –, só restou, de facto, Neil Young para insuflar, regularmente, algum sopro de vida na velha lenda.



Não poderia, então, ser mais bem-vindo (e totalmente inesperado!) este regresso do grupo aos estúdios, no início da segunda década do século XXI, e, muito em especial, por daí ter resultado um álbum que restitui o melhor do seu perfil musical original e, simultaneamente, lhe introduz material genético diverso. Para isso, foram, sem dúvida, decisivas as participações de Brian Wilson, a reforçar as harmonias vocais panorâmicas, e dos Fleetwood Mac, James Taylor e Cat Stevens (um opíparo festim para os irremediavelmente sequestrados na bolha nostálgica) a amaciarem a camurça-soft-rock de um reportório que, confessada e compreensivelmente, aponta para aquela música “que se ouvia nas rádios-FM em meados dos anos 70”. Francamente intrigante, porém, é repararmos como Kiss Each Other Clean aparece atribuído a uns tais Iron & Wine (aliás, Sam Beam, alegada luminária alt-country-folk) sem sequer a mais ínfima referência aos verdadeiros autores e seus ilustríssimos cúmplices. Há lapsos indesculpáveis.

(2011)

1 comment:

Manuel said...

"um David Crosby a meio caminho entre Júpiter e o "dealer" local".certo. mas este http://atalhodesons.blogspot.com/search/label/David%20Crosby vale a pena ouvir.
Abraço, Manuel Carvalho