THE RALLY TO RESTORE SANITY
Transcrição do discurso de Jon Stewart
(2010)
31 October 2010
PEDRO PASSOS COELHO: O PERFIL DE UM LÍDER (II)
"No seu apartamento em Massamá, o sol de Agosto queima a pequena varanda e reflecte-se na divisão onde coabitam a sala de jantar e a de estar, decoradas de modo sóbrio e sem sinais de luxo. A luz bate em cheio na figura alta que, com gestos desembaraçados e sem perder o fio narrativo, trata das obrigações domésticas - antes que a mulher e a filha mais nova cheguem a casa. Na cozinha, limpa os vestígios da presença das cadelinhas de estimação, fechadas ali um dia inteiro. É neste espaço, aliás, que - numa grande mesa - espalha livros e papéis, meditando na volta a dar ao país se o vier a governar.
Sempre que pára de falar, procurando uma nova reminiscência, Mini, Cuki, Nina e Peluche - com a solenidade das fêmeas que sabem o lugar cativo que ocupam no coração do homem -, viram em sincronia as cabeças na direcção do dono. A sua voz de barítono é, de resto, talvez a única extensão da sua natureza que transporta sentimentos. Quando se dirige àquela 'corte feminina', as suas cordas vocais descontraem-se, para deixarem passar o caudal de ternura. As caniches, companheiras de muitos anos, aconchegam-se a ele mal se senta em frente à lareira vazia, escutando-o com fidelidade - como se nenhuma das suas palavras fosse desperdício". (Felícia Cabrita, da primeira parte da biografia de Pedro Passos Coelho, na "Tabu"/"Sol")
(2010)
TADZIO
(daqui)
Morte em Veneza - real. Luchino Visconti, 1971;
Adagietto da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler
(2010)
(daqui)
Morte em Veneza - real. Luchino Visconti, 1971;
Adagietto da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler
(2010)
PEDRO PASSOS COELHO: O PERFIL DE UM LÍDER (I)
"Com o cabelo da cor da espiga do trigo e uma franjinha que quase batia nos enormes olhos azuis, Pedro mais parecia uma boneca. Era o mais novo dos quatro irmãos - e aquele a quem a mãe (...) prestava mais atenção. Ela achava-o doce como um rebuçado, mas o pai sabia que o miúdo era dado a cóleras súbitas. Um dia, num restaurante, (...) a empregada de mesa perguntou: 'O que é que a menina vai comer?'. Nem houve tempo para explicações. Pedro cresceu na cadeira e, dirigindo-se ao pai, perguntou: 'Pai, mostro-lhe a pilinha?'" (Felícia Cabrita, da primeira parte da biografia de Pedro Passos Coelho, na "Tabu"/"Sol")
(2010)
30 October 2010
NIGGER'S WHORE
(sequência daqui)
Cannonball Adderley com Miles Davis - " Autumn Leaves"
"Miles Davis's dark Italian suits and his European sports cars made him stand out from the generality of jazz musicians of the 1950s. No doubt his visit to Paris in May 1949, when he met Sartre and Boris Vian and fell in love with Juliette Gréco, had broadened his cultural horizons as well as his fashion sense. Two thousand fans turned up to hear him play at the Salle Pleyel in the Faubourg Saint-Honoré. (...)
That was the night Davis met Gréco, then making a name for herself in the clubs of the Left Bank, and through her the leading existentialists of the time. (...) More than half a century later, Gréco remembered: 'Sartre said to Miles: «Why don't you and Julie get married?» Miles replied: «Because I love her too much to make her unhappy». At that moment it wasn't a matter of infidelity [Davis was already married with two children] or of behaving like a Don Juan; it was simply a question of colour. If he'd taken me back to America with him, I would have been seen there as a 'nigger's whore'". (The Blue Moment: Miles Davis's 'Kind Of Blue' And The Remaking Of Modern Music, de Richard Williams)
(2010)
TAMBÉM NO OUTONO QUEM É QUE ESTÁ À ESPERA QUE HAJA FOLHAS DE ÁRVORES CAÍDAS NA AVENIDA DA LIBERDADE?
"[A inundação da Av. da Liberdade] 'Foi uma coincidência com um pico de chuva de 39 milímetros em apenas uma hora. E isto é um facto que ocorre, segundo os especialistas, uma vez de 50 em 50 anos', disse [o vereador da Câmara de Lisboa com o pelouro do Urbanismo] Manuel Salgado, que atribuiu às folhas das árvores da Avenida da Liberdade caídas neste Outono a dificuldade no escoamento das águas". (aqui)
(2010)
COLOSSAL YOUTH - PARTE II: RESPONDENDO
À PATRIÓTICA EXORTAÇÃO DO PRESIDENTE
Gay Pride, Amsterdão, Agosto 2010
À PATRIÓTICA EXORTAÇÃO DO PRESIDENTE
Gay Pride, Amsterdão, Agosto 2010
29 October 2010
RECORDAR É VIVER (XVIII)
Colossal Youth: exortação do Presidente à lusa mocidade
"A capacidade e o treino físico são condições indispensáveis para o exercício da profissão militar. A percentagem de candidatos à admissão nas escolas militares que é eliminada nas provas físicas chega a atingir, nalguns casos, os 40 por cento. Será, talvez, uma característica das sociedades modernas, mas é com certeza preocupante. Importa melhorar a condição física dos nossos jovens, não só numa perspectiva de Defesa Nacional mas também por razões de saúde pública e bem-estar da população". (discurso de Cavaco Silva, nas cerimónias de 10 de Junho)
Juventude! Há que escutar com atenção as palavras do nosso Presidente, pôr os olhos nestes moços e moças rijos e saudáveis e seguir-lhes o exemplo:
(2010 - publicado pela primeira vez aqui)
Colossal Youth: exortação do Presidente à lusa mocidade
"A capacidade e o treino físico são condições indispensáveis para o exercício da profissão militar. A percentagem de candidatos à admissão nas escolas militares que é eliminada nas provas físicas chega a atingir, nalguns casos, os 40 por cento. Será, talvez, uma característica das sociedades modernas, mas é com certeza preocupante. Importa melhorar a condição física dos nossos jovens, não só numa perspectiva de Defesa Nacional mas também por razões de saúde pública e bem-estar da população". (discurso de Cavaco Silva, nas cerimónias de 10 de Junho)
Juventude! Há que escutar com atenção as palavras do nosso Presidente, pôr os olhos nestes moços e moças rijos e saudáveis e seguir-lhes o exemplo:
(2010 - publicado pela primeira vez aqui)
SOBRE O FIO DA NAVALHA
Elvis Costello é o tipo de personagem que, mesmo dispondo de um óptimo pretexto para compor a sala de troféus à custa das homenagens de admiradores famosos, se, da sua parte, a admiração não é retribuída, não pesa as palavras e parte a loiça toda. Em 1985, aquando da publicação de Less Than Zero, de Bret Easton Ellis (intitulado a partir de uma canção sua), interrogado pela “Rolling Stone” sobre se conhecia o escritor, respondeu lançando-se numa paródia demolidora do estilo de Ellis que, ainda hoje, este admite ter sido um dos momentos da sua vida em que se sentiu mais magoado e humilhado ao ver-se publicamente ridicularizado pelo seu ídolo. Não tanto, porém, que não tenha chamado ao seu último romance Imperial Bedrooms (lançado há poucos meses), outra canção de Costello. No entanto, embora não fugindo demasiado do mesmo registo, quando, agora, pergunto a Elvis se já o leu e o que pensa dele, primeiro, ri-se, depois, diz que não, não o leu e, a seguir, afirma “Olhe, se quiser, podemos dizer que é a nossa tournée de reunião da banda...”
Não que Costello se tenha deixado amansar demasiado pela felicidade doméstica que parece ter encontrado ao lado de Diana Krall e do par de gémeos que procriaram. Basta uma observação inocente acerca do facto de o seu novo álbum, National Ransom, ter sido, como o anterior, Secret, Profane & Sugarcane (2009), produzido por T-Bone Burnett, seu velho cúmplice desde King Of America (de 1986, uma das suas mais veneradas gravações) e Spike (de 1989, e um dos criticamente mal-amados da sua discografia) para que a alusão ao suposto estatuto “menor” de Spike – mesmo que resguardado pela minha confissão de que nunca partilhei dessa opinião – desencadeie uma diatribe “acerca do que os críticos percebem disto”: “Trabalhei com excelentes produtores como o Nick Lowe ou o Mitchell Froom mas a relação musical que tenho com o T-Bone Burnett é, realmente, muito especial. Ele é o género de produtor que continua a preocupar-se com aqueles detalhes que a maioria dos outros já não leva em conta. O Spike poderá não ter caído nas boas graças de muitos, mas foi um dos meus discos que mais cópias vendeu. Produz-se muita opinião, especula-se imenso acerca da relevância disto e daquilo, mas, com demasiada frequência, há aspectos igualmente decisivos a que quem tinha obrigação de o fazer não se presta atenção. Podem apontar este ou aquele erro, opinar sobre o que lhes apetecer mas, em última análise, não passa de ar em movimento. Eu estou demasiado ocupado a fazer as coisas para perder tempo com isso”. O que também não deixa de oferecer um interessante contraponto relativamente aquele seu outro ponto de vista segundo o qual “mesmo que não arrastemos o público atrás de um disco não é por isso que ele será melhor ou pior. A arte não funciona através do voto democrático depositado na urna das opções estéticas. Na melhor das hipóteses, poderá ser uma ditadura benévola”.
De facto, “amansar” é palavra que não poderia ser menos adequada para descrever um álbum que Costello dedica aos “bankrupt times, whenever they may be” e, na própria canção-título, desenha um cenário de guerra social aterradoramente em sintonia com o espírito do tempo (“Around the time the killing stopped on Wall Street, you couldn’t hold me, baby, with anything but contempt”) e vomita nojo sobre os responsáveis pela catástrofe (“Did you find how to lie? Did you find out just how to cheat? The elite bleat, they’re obsolete”). Não esqueçamos: este foi o homem que, nos tempos de Thatcher, “when England was the whore of the world and Margaret was her madam”, escreveu “Tramp The Dirt Down” (“there's one thing I know, I'd like to live long enough to savour, that's when they finally put you in the ground, I'll stand on your grave and tramp the dirt down”) e “Shipbuilding”, a devastadoramente bela assombração sobre a guerra das Malvinas que a voz de Robert Wyatt cantaria como um requiem ateu.
Ainda assim, segundo ele, nem se vê na condição de "songwriter" especialmente “político” nem acredita demasiado numa escrita ostensivamente militante: “A codificação das canções políticas e ‘de protesto’ que as tornou imediatamente previsíveis obriga-nos a ser um pouco mais subtis. Podemos supor que uma canção contém algum potencial de mobilização mas isso pouco significa se estivermos a cantar para um grupo de pessoas que já comunga dos nossos pontos de vista. É a forma como o fazemos que importa. ‘Tramp The Dirt Down’ foi uma canção que me saiu de jorro. Mas prefiro apostar na intensidade e na verdade das personagens que as habitam – como em ‘Shipbuilding’ ou em diversas deste álbum. Vale, certamente, a pena escrever e cantar canções, em especial, neste momento, em que se caminha sobre o fio da navalha. Tentar entrever alguma luz, alguma decência e alguma verdade no interior de nós e no meio de um mundo que, de outra forma, seria absolutamente insuportável, é um dos melhores motivos para não desistirmos de continuar a compor, a gravar discos e a dar concertos".
(2010)
CAMANÉ - "SÚPLICA"
(2010)
(2010)
28 October 2010
RECORDAR É VIVER (XVII)
O Santo António, o Listopad e o São Vicente que não tem nada que ser chamado à conversa *
Praga, República Checa, Abril de 2010: "Como não podia deixar de ser, o Presidente da República e a sua mulher, Maria Cavaco Silva, foram visitar, pela segunda vez, a famosa ponte [Carlos] de 16 arcos e pararam em frente à estátua de Santo António. E o Presidente exclamou: 'Ali o que está errado é o nosso Santo António!'.
'Santo António de Pádua não! Santo António de Lisboa!' exclamou, por sua vez, Maria Cavaco Silva, virando-se para o guia turístico que ia dando informações ao casal presidencial. E como este não reagiu passou a explicar: 'Ele morreu em Pádua (Itália) mas nasceu em Lisboa'. O guia ficou de certo modo surpreendido com as palavras do presidente e da sua mulher, mas nada disse. Mas Cavaco Silva ainda insistiu no caso durante mais algum tempo. 'Já disse ao Listopad, que é checo (Jorge Listopad, professor e escritor de origem checa que foi convidado a acompanhar o Presidente nesta visita de Estado à República Checa) para escrever às autoridades checas para fazerem a correcção: Santo António de Lisboa'.
Mais tarde, durante um discurso proferido na Câmara Municipal de Praga, e perante o presidente da dita, Cavaco Silva voltou ao assunto, improvisando uma passagem do seu discurso na parte em que enaltece a beleza da ponte: 'Ao cruzar a Ponte Carlos, desfrutando da impressionante vista que nos proporciona e apreciando as belissímas estátuas que a decoram, incluíndo a do nosso Santo António de Lisboa - que não é de Pádua, como está escrito na estátua - padroeiro da nossa capital'".
(daqui)
* sem dúvida, um dos mais brilhantes momentos de afirmação nacional e patriótica de Portugal no mundo do primeiro mandato de Cavaco Silva... e não adianta vir cá com a mariquice dos rigores históricos e dizer que o padroeiro de Lisboa é São Vicente e não Santo António; além de que há que reconhecer o jeitão que dá ter logo ali um checo às ordens para pôr tudo em pratos limpos.
(2010)
O Santo António, o Listopad e o São Vicente que não tem nada que ser chamado à conversa *
Praga, República Checa, Abril de 2010: "Como não podia deixar de ser, o Presidente da República e a sua mulher, Maria Cavaco Silva, foram visitar, pela segunda vez, a famosa ponte [Carlos] de 16 arcos e pararam em frente à estátua de Santo António. E o Presidente exclamou: 'Ali o que está errado é o nosso Santo António!'.
'Santo António de Pádua não! Santo António de Lisboa!' exclamou, por sua vez, Maria Cavaco Silva, virando-se para o guia turístico que ia dando informações ao casal presidencial. E como este não reagiu passou a explicar: 'Ele morreu em Pádua (Itália) mas nasceu em Lisboa'. O guia ficou de certo modo surpreendido com as palavras do presidente e da sua mulher, mas nada disse. Mas Cavaco Silva ainda insistiu no caso durante mais algum tempo. 'Já disse ao Listopad, que é checo (Jorge Listopad, professor e escritor de origem checa que foi convidado a acompanhar o Presidente nesta visita de Estado à República Checa) para escrever às autoridades checas para fazerem a correcção: Santo António de Lisboa'.
Mais tarde, durante um discurso proferido na Câmara Municipal de Praga, e perante o presidente da dita, Cavaco Silva voltou ao assunto, improvisando uma passagem do seu discurso na parte em que enaltece a beleza da ponte: 'Ao cruzar a Ponte Carlos, desfrutando da impressionante vista que nos proporciona e apreciando as belissímas estátuas que a decoram, incluíndo a do nosso Santo António de Lisboa - que não é de Pádua, como está escrito na estátua - padroeiro da nossa capital'".
(daqui)
* sem dúvida, um dos mais brilhantes momentos de afirmação nacional e patriótica de Portugal no mundo do primeiro mandato de Cavaco Silva... e não adianta vir cá com a mariquice dos rigores históricos e dizer que o padroeiro de Lisboa é São Vicente e não Santo António; além de que há que reconhecer o jeitão que dá ter logo ali um checo às ordens para pôr tudo em pratos limpos.
(2010)
RECORDAR É VIVER (XVI)
O homem vai para o trabalho; a mulher vai às comprar a pensar nos filhos e nos netos; o homem orienta-lhe os euros: cenas de afecto e economia doméstica da 1ª família
Istambul, Turquia: "Depois do chá, Maria Cavaco Silva foi às compras e o Presidente foi 'para o trabalho' – o seminário económico, com centenas de empresários, portugueses e turcos, num hotel junto ao Bósforo. Sorridente, Cavaco disse que não ia fazer compras, mas que a mulher, Maria Cavaco Silva, tinha ficado no bazar 'com o pensamento' nos filhos e nos netos e que não sairia dali sem algumas compras para eles. 'Disse-me: vai para o teu trabalho, para o seminário económico, que eu vou às compras’. Cavaco que confessa não ter jeito para as compras não foi no 'grupo das compras', mas deu euros à mulher: 'Deixei-lhe, não o cartão de crédito, mas euros'". (daqui)
... mas com som tem outro encanto:
(2010)
O homem vai para o trabalho; a mulher vai às comprar a pensar nos filhos e nos netos; o homem orienta-lhe os euros: cenas de afecto e economia doméstica da 1ª família
Istambul, Turquia: "Depois do chá, Maria Cavaco Silva foi às compras e o Presidente foi 'para o trabalho' – o seminário económico, com centenas de empresários, portugueses e turcos, num hotel junto ao Bósforo. Sorridente, Cavaco disse que não ia fazer compras, mas que a mulher, Maria Cavaco Silva, tinha ficado no bazar 'com o pensamento' nos filhos e nos netos e que não sairia dali sem algumas compras para eles. 'Disse-me: vai para o teu trabalho, para o seminário económico, que eu vou às compras’. Cavaco que confessa não ter jeito para as compras não foi no 'grupo das compras', mas deu euros à mulher: 'Deixei-lhe, não o cartão de crédito, mas euros'". (daqui)
... mas com som tem outro encanto:
(2010)
RECORDAR É VIVER (XV)
A garantia solene do Dr. Dias Loteiro
Documentos descobertos em anexo na residência de Dias Loureiro
(2010)
27 October 2010
RECORDAR É VIVER (XIV)
"Cavaco cobre Eduardo dos Santos de elogios"
("Público")
MONEY
Money money makes the world go round
money money'll make you change your sound
if the price is right
if the price is right
if you want paper
if you want gold and silver
learn now not later
people pay for what's familiar
no need to know yourself too well
you can trade in that saga you tell
for the song you know will sell
if you want cheddar
if you want smoke and roll better
take off your sweater
to earn your varsity letter
it's a virgin feast for all
see how gracefully they fall
into the mirrors on the wall
cuz if you want to belong you write a sing-a-long
(chorus)
money money'll make you change your sound
if the price is right
if the price is right
if you want paper
if you want gold and silver
learn now not later
people pay for what's familiar
no need to know yourself too well
you can trade in that saga you tell
for the song you know will sell
if you want cheddar
if you want smoke and roll better
take off your sweater
to earn your varsity letter
it's a virgin feast for all
see how gracefully they fall
into the mirrors on the wall
cuz if you want to belong you write a sing-a-long
(chorus)
where do we go
the freaks
on the fringe
when the edges are all rounded out
we just dangle out in space
you can call us when you need to find out
what the real stars are all about
time has turned and the scenery has changed
and all the books have
burned
but the lyrics remain
let the motherfucker burn let's change the refrain
nobody need history
repeatin tin tin tin tin
(chorus)
if you want skrilla
if you're a cheddar gorilla
stack up your bills as
you sign away your free will
there's no need to represent
the truth of self has now been spent
moving from mortgage out of rent
cuz if you want to belong you write a sing-a-long:
(chorus)
if you're a cheddar gorilla
stack up your bills as
you sign away your free will
there's no need to represent
the truth of self has now been spent
moving from mortgage out of rent
cuz if you want to belong you write a sing-a-long:
(chorus)
(em replay)
(2010 - publicado pela 1ª vez aqui)
RECORDAR É VIVER (XII)
Cavaco Silva (da série "grandes vultos nacionais" - VIII)
A malandragem que ia matando de frio o pobre dr. Cavaco
[Cavaco Silva, para se doutorar em Inglaterra, em 1971] Escolheu a universidade de York, uma instituição que, por ser recente, não tinha prestígio, mas que lhe pareceu adequada aos seus fins. Os dois anos e meio que ali passou foram pouco marcantes, não só porque, casado e com filhos, não teve oportunidade de fazer parte da vida académica comunitária, mas por, devido ao seu feitio retraído, os acontecimentos políticos e sociais lhe terem escapado. Apesar de tudo, notou que havia diferenças entre a democracia inglesa e o regime sob o qual nascera, desde logo por o primeiro autorizar greves, coisa a que nunca tinha assistido. Curiosamente, o que guardou na memória não foi a dureza do conflito entre os mineiros e o governo, mas o estoicismo com que a sua família encarou a falta de aquecimento durante o gélido Inverno de 1973. No mês de Fevereiro seguinte, Ted Heath caía. Nas eleições subsequentes, o que mais o impressionou foi o magnífico bufete servido durante uma election party". (Maria Filomena Mónica, Vidas/Biografias, Perfis e Encontros)
Banda sonora sugerida: "The Testimony Of Patience Kershaw"
(2010)
MAIS UMA PARA NUNCA, NUNCA MAIS ESQUECER:
ESTA É A CRIATURA A QUEM QUE FOI ENTREGUE A
MISSÃO DE SUBSTITUIR SALDANHA SANCHES!
Ana Paula Vitorino implica Mário Lino no 'Face Oculta': " Ana Paula Vitorino, antiga secretária de Estado dos Transportes, revelou que o ex-ministro das Obras Públicas, Mário Lino, a tentou sensibilizar para os problemas que existiam entre o empresário Manuel Godinho - o único arguido em prisão preventiva - e a Refer. De acordo com informações recolhidas pelo DN, Ana Paula Vitorino terá contado ao MP que Mário Lino tentou convencê-la a intervir, dizendo- -lhe que Manuel Godinho era amigo do PS".
"O ex-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações é o novo presidente do conselho fiscal das companhias de seguros do grupo Caixa Geral de Depósitos, que era ocupado pelo falecido Saldanha Sanches".
Saldanha Sanches aqui.
(2010)
ESTA É A CRIATURA A QUEM QUE FOI ENTREGUE A
MISSÃO DE SUBSTITUIR SALDANHA SANCHES!
Ana Paula Vitorino implica Mário Lino no 'Face Oculta': " Ana Paula Vitorino, antiga secretária de Estado dos Transportes, revelou que o ex-ministro das Obras Públicas, Mário Lino, a tentou sensibilizar para os problemas que existiam entre o empresário Manuel Godinho - o único arguido em prisão preventiva - e a Refer. De acordo com informações recolhidas pelo DN, Ana Paula Vitorino terá contado ao MP que Mário Lino tentou convencê-la a intervir, dizendo- -lhe que Manuel Godinho era amigo do PS".
"O ex-ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações é o novo presidente do conselho fiscal das companhias de seguros do grupo Caixa Geral de Depósitos, que era ocupado pelo falecido Saldanha Sanches".
Saldanha Sanches aqui.
(2010)
26 October 2010
RECORDAR É VIVER (IX)
Álbum de família
Cavaco Silva+Dias-"pai, sou ministro!"-Loureiro (BPN)
Cavaco Silva+Oliveira e Costa (BPN)
Cavaco Silva+Dias-"pai, sou ministro!"-Loureiro (BPN)
+Oliveira e Costa (BPN)
Pina-Iberdrola-Moura+Jorge-Mota-Engil-Coelho+Dias-"pai, sou
ministro!"-Loureiro (BPN) ou "we know people who know people"
(2010)
Álbum de família
Cavaco Silva+Dias-"pai, sou ministro!"-Loureiro (BPN)
Cavaco Silva+Oliveira e Costa (BPN)
Cavaco Silva+Dias-"pai, sou ministro!"-Loureiro (BPN)
+Oliveira e Costa (BPN)
Pina-Iberdrola-Moura+Jorge-Mota-Engil-Coelho+Dias-"pai, sou
ministro!"-Loureiro (BPN) ou "we know people who know people"
(2010)
MALMEQUERES DE NANJING
Belle And Sebastian - Write About Love
Norah Jones em "Little Lou, Ugly Jack, Prophet John" e um sintetizador manhoso que se assemelha arrepiantemente a uma flauta de Pã em "Read the Blessed Pages". Só isto seria muito mais do que suficiente para condenar os Belle And Sebastian ao mais fofinho dos infernos onde, definitiva e eternamente, se veriam cercados de Hello Kitties que lhes serviriam copinhos de leite morno e lhes dariam beijinhos castos na testa. A coisa, porém, agrava-se substancialmente quando, depois de God Help The Girl e Dear Catastrophe Waitress, ficámos a saber que, no organismo de Stuart Murdoch, circulava um pouco mais de testosterona do que, inicialmente, se supunha. Houve mesmo um momento – o da publicação de God Help The Girl – em que chegou a ser possível imaginar que, ali, poderia encontrar-se um sucessor à altura para aquela vaga na linhagem pop que, de Phil Spector aos ABBA, embora com diversas candidaturas entregues, ainda não se encontra preenchida. Trágica ilusão: se eles, de facto, sempre foram adeptos daquele género de transcendência que se alcança a colher malmequeres ao lusco-fusco, agora, com Write About Love, desceram ao patamar inferior onde os únicos malmequeres disponíveis são de plástico, oriundo das melhores fábricas de Nanjing. Por outras palavras: são capazes de fazer muito melhor mas o pé foge-lhes, irremediavelmente, para este chinelo de escriturários deprimidos e místicos suburbanos que, olhando fixamente para o Sol, em vez de fritarem a retina, descobrem Deus. Espremendo a benevolência até à última molécula, haverá por aqui duas ou três hipóteses de um lugar naquela metade da tabela das eliminatórias para o festival da Eurovisão que dá acesso à final. Sonhar com mais do que isso não vale a pena.
(2010)
25 October 2010
CÁ E NA VENEZUELA DO AMIGO CHÁVEZ
(ACREDITANDO QUE A TERCEIRA IDADE
É A SEGUNDA INFÂNCIA) AINDA RESTA
UM PROMISSOR NICHO DE MERCADO PARA
O "MAGALHÃES" PRONTO A SER EXPLORADO
(2010)
(ACREDITANDO QUE A TERCEIRA IDADE
É A SEGUNDA INFÂNCIA) AINDA RESTA
UM PROMISSOR NICHO DE MERCADO PARA
O "MAGALHÃES" PRONTO A SER EXPLORADO
(2010)
SOBRE AS PEGADAS DOS POETAS
(sequência daqui)
Camané - Do Amor e dos Dias
Foi precisamente há quinze anos que foi publicado Uma Noite de Fados, primeiro álbum da carreira adulta de Camané. No final de 1999 – já Na Linha da Vida (1998) fora editado e Esta Coisa da Alma (2000) estava a caminho –, aquando da morte de Amália Rodrigues, era já absolutamente claro que, se seria sempre tolo e absurdo procurar descobrir-lhe um(a) sucessor(a) capaz de ocupar o mesmo exacto lugar, não havia que alimentar demasiados receios: o fado tinha já uma (pelo menos uma) voz pronta a elevá-lo a altura idêntica à que Amália o conduzira. Nos seguintes Pelo Dia Dentro (2001), Como Sempre... Como Dantes (2003) e Sempre de Mim (2008), os passos que o confirmariam para além de qualquer dúvida foram percorridos: Camané possuía a voz, o seu Oulman – simultaneamente director musical, compositor e bússola estética – em José Mário Branco, e um desejo voraz de, mantendo-se no perímetro dos códigos tradicionais, não hesitar em lhes expandir os limites.
Nesses e, agora, neste Do Amor e dos Dias, não foram necessários tremendos sobressaltos, rupturas dramáticas nem manifestos (re)fundadores: austero como sempre (e como dantes), Camané caminha sobre as pegadas dos poetas – os dos livros: Mourão-Ferreira, Alexandre O’Neil, Cesário Verde; os da canção: Sérgio Godinho, Fausto; os do fado e outros becos: Frederico de Brito, Manuela de Freitas, Miguel Novo, Luís Viana, Margarida de Castro – e, por entre irónicas alusões ao cinema (“A Guerra das Rosas”), poses rapidamente desmanteladas de faux-macho, guitarra, viola e baixo em geometria imponderável e as subtilezas microsubliminares dos arranjos (as alusões ao vetusto hino da RTP e a “All You Need Is Love” em “A Guerra das Rosas”), lança mais uma solidíssima pedra para o edifício do (novo?) fado.
(2010)
(sequência daqui)
Camané - Do Amor e dos Dias
Foi precisamente há quinze anos que foi publicado Uma Noite de Fados, primeiro álbum da carreira adulta de Camané. No final de 1999 – já Na Linha da Vida (1998) fora editado e Esta Coisa da Alma (2000) estava a caminho –, aquando da morte de Amália Rodrigues, era já absolutamente claro que, se seria sempre tolo e absurdo procurar descobrir-lhe um(a) sucessor(a) capaz de ocupar o mesmo exacto lugar, não havia que alimentar demasiados receios: o fado tinha já uma (pelo menos uma) voz pronta a elevá-lo a altura idêntica à que Amália o conduzira. Nos seguintes Pelo Dia Dentro (2001), Como Sempre... Como Dantes (2003) e Sempre de Mim (2008), os passos que o confirmariam para além de qualquer dúvida foram percorridos: Camané possuía a voz, o seu Oulman – simultaneamente director musical, compositor e bússola estética – em José Mário Branco, e um desejo voraz de, mantendo-se no perímetro dos códigos tradicionais, não hesitar em lhes expandir os limites.
Nesses e, agora, neste Do Amor e dos Dias, não foram necessários tremendos sobressaltos, rupturas dramáticas nem manifestos (re)fundadores: austero como sempre (e como dantes), Camané caminha sobre as pegadas dos poetas – os dos livros: Mourão-Ferreira, Alexandre O’Neil, Cesário Verde; os da canção: Sérgio Godinho, Fausto; os do fado e outros becos: Frederico de Brito, Manuela de Freitas, Miguel Novo, Luís Viana, Margarida de Castro – e, por entre irónicas alusões ao cinema (“A Guerra das Rosas”), poses rapidamente desmanteladas de faux-macho, guitarra, viola e baixo em geometria imponderável e as subtilezas microsubliminares dos arranjos (as alusões ao vetusto hino da RTP e a “All You Need Is Love” em “A Guerra das Rosas”), lança mais uma solidíssima pedra para o edifício do (novo?) fado.
(2010)
LLOYD COLE: FILOSOFIA DE QUARTO DE HOTEL
Life after fame: Lloyd Cole on what your hotel room tells you about your pop career: (...) "Finally, Lisbon. We have been in love since 1985. The fiery passion long gone, but still, heads turn. It's late when I arrive at Hotel do Chiado – the place 10 years ago and still lovely, if a little frayed at the edges (touché). The porter shows me to my room. The view is spectacular; there isn't a better city view in the world. I know Tapete can't afford this room... Some days, some places, it is indeed good to be me. I should take a photo and post it on Twitter. I should. Instead, I take a whiskey on the balcony, and I then re-string my guitars, watching a Law & Order re-run".
(2010)
Life after fame: Lloyd Cole on what your hotel room tells you about your pop career: (...) "Finally, Lisbon. We have been in love since 1985. The fiery passion long gone, but still, heads turn. It's late when I arrive at Hotel do Chiado – the place 10 years ago and still lovely, if a little frayed at the edges (touché). The porter shows me to my room. The view is spectacular; there isn't a better city view in the world. I know Tapete can't afford this room... Some days, some places, it is indeed good to be me. I should take a photo and post it on Twitter. I should. Instead, I take a whiskey on the balcony, and I then re-string my guitars, watching a Law & Order re-run".
(2010)
O QUE NOS DEVE LIVRAR DE UM VALENTE
INCIDENTE DIPLOMÁTICO É QUE ASMA AL-ASSAD
ATÉ PARECE SER UMA SENHORA CIVILIZADA
Asma al-Assad
Chávez diz que deu um Magalhães à primeira dama da Síria (o que, convenhamos, não é maneira de tratar nenhuma senhora...)
(2010)
INCIDENTE DIPLOMÁTICO É QUE ASMA AL-ASSAD
ATÉ PARECE SER UMA SENHORA CIVILIZADA
Asma al-Assad
Chávez diz que deu um Magalhães à primeira dama da Síria (o que, convenhamos, não é maneira de tratar nenhuma senhora...)
(2010)
24 October 2010
STREET ART, GRAFFITI & ETC (L)
Lisboa, Portugal, 2010 - Erica Il Cane
(quatro meses e tal depois - 3)
(2010)
Lisboa, Portugal, 2010 - Erica Il Cane
(quatro meses e tal depois - 3)
(2010)
AFINAL EXISTE UMA JUSTIFICAÇÃO PARA O DEPUTADO
RICARDO GONÇALVES TER DE PASSAR FOMINHA: HÁ QUE
NÃO FALTAR COM NADA AOS POMBOS E ÀS BORBOLETAS
A solidariedade do Estado chegou aos pombos e às borboletas: "Com uma mão, o Governo aumenta os encargos fiscais e alarga a sua abrangência. Com a outra, isenta diversas organizações de algumas dessas taxas. Só durante a semana passada, além de ter reconhecido uma nova fundação, concedeu o estatuto de utilidade pública a cinco entidades, entre estas, a uma outra fundação. (...) Entre as beneficiadas encontram-se entidades tão díspares como a Câmara de Comércio Luso-Chinesa ou a Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu, que se tornou numa 'pessoa colectiva de utilidade pública'. Assim como a Liga de Amigos de Setúbal e Azeitão. Ou o Clube de Futebol 'Os Armacerenses'. Ou o Hóquei Clube de Santarém. Até mesmo o Rancho Folclórico Camponeses de Arosa foi reconhecido. A solidariedade do Governo estendeu-se mesmo até às borboletas, graças à declaração de utilidade pública da TAGIS (Centro de Conservação das Borboletas de Portugal). E aterrou nos pombais, com a concessão do mesmo estatuto à Associação Columbófila do Distrito de Lisboa".
(2010)
RICARDO GONÇALVES TER DE PASSAR FOMINHA: HÁ QUE
NÃO FALTAR COM NADA AOS POMBOS E ÀS BORBOLETAS
A solidariedade do Estado chegou aos pombos e às borboletas: "Com uma mão, o Governo aumenta os encargos fiscais e alarga a sua abrangência. Com a outra, isenta diversas organizações de algumas dessas taxas. Só durante a semana passada, além de ter reconhecido uma nova fundação, concedeu o estatuto de utilidade pública a cinco entidades, entre estas, a uma outra fundação. (...) Entre as beneficiadas encontram-se entidades tão díspares como a Câmara de Comércio Luso-Chinesa ou a Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu, que se tornou numa 'pessoa colectiva de utilidade pública'. Assim como a Liga de Amigos de Setúbal e Azeitão. Ou o Clube de Futebol 'Os Armacerenses'. Ou o Hóquei Clube de Santarém. Até mesmo o Rancho Folclórico Camponeses de Arosa foi reconhecido. A solidariedade do Governo estendeu-se mesmo até às borboletas, graças à declaração de utilidade pública da TAGIS (Centro de Conservação das Borboletas de Portugal). E aterrou nos pombais, com a concessão do mesmo estatuto à Associação Columbófila do Distrito de Lisboa".
(2010)
23 October 2010
O "MANELINHO" EM DISCURSO DIRECTO
Luís Capucha...
"Os alunos quando obtêm um diploma [das "Novas Oportunidades"], esse corresponde às competências que têm. Existem referenciais que estabelecem as áreas de competências que têm que ser possuídas e toda a avaliação de conhecimentos e os júris de certificação garantem que as pessoas possuem essas competências".
(há "referenciais", sim senhor: podem consultá-los aqui, aqui, aqui e aqui)
"Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas"
(... parece que não... ora veja lá aqui)
... aliás, o "Manelinho"
Um adulto pode chegar com o 6º ano e sair, em poucos meses, com o 12º?
Pode acontecer. Há uma ruptura com a lógica de disciplinas, das metodologias de ensino e aprendizagem para uma lógica mais abrangente de evidenciar o que o adulto sabe e integrar a sua experiência.
Não se qualificam pessoas para ficar bem nas estatísticas, como dizem alguns críticos?
Que mal é que existe em o país ter uma boa imagem? Essas pessoas preferiam que apenas 20 por cento dos adultos activos possuíssem o ensino secundário? Essa era a imagem do país. (a totalidade da entrevista com Luís Capucha, director da Agência Nacional para a "Qualificação"/"Novas Oportunidades" aqui)
(2010)
Luís Capucha...
"Os alunos quando obtêm um diploma [das "Novas Oportunidades"], esse corresponde às competências que têm. Existem referenciais que estabelecem as áreas de competências que têm que ser possuídas e toda a avaliação de conhecimentos e os júris de certificação garantem que as pessoas possuem essas competências".
(há "referenciais", sim senhor: podem consultá-los aqui, aqui, aqui e aqui)
"Há dois grandes indicadores que mostram que as pessoas saem mais capacitadas, preparadas para os desafios: a adesão das empresas à INO e os testemunhos das pessoas"
(... parece que não... ora veja lá aqui)
... aliás, o "Manelinho"
Um adulto pode chegar com o 6º ano e sair, em poucos meses, com o 12º?
Pode acontecer. Há uma ruptura com a lógica de disciplinas, das metodologias de ensino e aprendizagem para uma lógica mais abrangente de evidenciar o que o adulto sabe e integrar a sua experiência.
Não se qualificam pessoas para ficar bem nas estatísticas, como dizem alguns críticos?
Que mal é que existe em o país ter uma boa imagem? Essas pessoas preferiam que apenas 20 por cento dos adultos activos possuíssem o ensino secundário? Essa era a imagem do país. (a totalidade da entrevista com Luís Capucha, director da Agência Nacional para a "Qualificação"/"Novas Oportunidades" aqui)
(2010)
22 October 2010
CANTAR NÃO É UMA ALEGRIA
A entrevista com Camané estava, sensivelmente, a meio quando, à mesa da esplanada de Benfica onde conversávamos, três miúdos – treze, catorze anos, no máximo – se aproximam e, tão tímidos quanto determinados, se dirigem a ele: “É o Camané, não é?...” Ele (dir-me-ia a seguir “Quando vou ao Bairro Alto, à noite, e isto, às vezes, acontece, até fico envergonhado...”), não muito menos embaraçado, confirma e escuta-os declarar quanto gostam da música e dos fados que canta. Só terá sido uma espécie de episódio-“Twilight Zone” lisboeta para quem ainda não se tenha realmente apercebido de como a ele – com novo álbum, Do Amor e dos Dias – se deve a definitiva emancipação do fado pós-Amália e a sua consagração como elo natural, indispensável e transgeracional da música portuguesa contemporânea.
Ao chegares ao sexto álbum, quando partes para uma nova gravação, o que mudou (se alguma coisa mudou) na forma como a abordas?
As coisas agora acontecem de uma maneira, talvez, mais metódica. Este é o meu disco mais conceptual, sobre o amor, o ódio, a raiva. Não é um disco romântico, é sobre o quotidiano do amor, com alguma ironia. Inspirei-me em certos fados, do Marceneiro, por exemplo, que sempre estiveram comigo. Quando falei com a Manuela de Freitas para ela escrever “A Guerra das Rosas”, pedi-lhe para ela o fazer com essa ironia.
Não abandonando o material tradicional do fado, tens vindo a optar por temas que não são exactamente fados nem pela origem nem pela sua própria configuração musical. Apesar de sempre teres afirmado que o fado, em si mesmo, é inesgotável, isso não será um sinal de que sentes que, de certo modo, ele te limita?
De facto, nunca achei que o fado tivesse limites. Pela sua personalidade melódica e também pela sua simplicidade, consegue-se revisitá-lo de uma maneira que não tem fim. Mas apeteceu-me também fazer o que a Amália, com o Alain Oulman, ou o Carlos do Carmo já tinham feito: pegar em temas que, originalmente, não eram clássicos mas que, depois, se tornaram. Trabalhar todos estes anos com o José Mário Branco também foi muito importante. Logo a seguir ao 25 de Abril, ele tinha composto o “Fado da Tristeza” e o “Fado Penélope”. Hoje, já são fados tradicionais. Neste disco, há o “Fado Pombal” que tem uma estrutura do fado tradicional de Lisboa mas, depois, há uma parte que soa a Coimbra. Como não é uma coisa nem outra mas está entre Lisboa e Coimbra, ele chamou-lhe “Fado Pombal”.
De qualquer modo, tens feito concertos em que abordas reportório completamente exterior ao fado, como standards franceses e americanos, canções pop portuguesas, dando a ideia de que sentes necessidade de respirar outros ares, de, de vez em quando, cometer um pequeno adultério (muito fadista) em relação ao fado...
Apetece-me, pontualmente, visitar outras coisas. Com os Humanos, foram duas semanas para gravar o disco e quatro concertos. O dos standards foram sete concertos. Eu sou cantor, não sou compositor e, por vezes, preciso de algumas razões para fazer outras coisas. A minha música é o fado mas sabe bem, de vez em quando, recarregar as baterias noutros lados.
Mas nunca te sentiste, realmente, saturado do fado?
Quando comecei a ouvir fado - o meu bisavô e o meu avô cantavam -, aquilo irritava-me imenso, achava esquisita aquela característica do canto. Não foi nada natural, irritava-me aquela voz fadista do meu pai. O que é certo é que, sem querer, acabei por herdá-la. Quando tinha doze ou treze anos e cantava outras coisas que não fado, afadistava-as e os meus amigos gozavam comigo. Tinha apenas três discos que não eram de fado: um do Aznavour, um do Sinatra e outro dos Beatles. Eu até pensava que não tinha jeito para cantar mas, quando comecei a cantar fado, com todas as inseguranças, apercebi-me de que, por ali, conseguia cantar.
A Cristina Branco – na minha opinião, contigo, a outra grande voz actual do fado – diz, sem hesitar, que canta fados mas não é fadista. Tu, mesmo cantando outro reportório, sempre te afirmaste como fadista...
E muito claramente. Uma coisa não é pior nem melhor do que a outra. Isso tem a ver com o percurso de cada um. Uma coisa é descobrir-se o fado aos vinte anos e outra ouvi-lo aos sete quando já o pai, o avô e o bisavô cantavam.
Como cantor, usas, hoje, a voz de forma diferente?
Claro que há crescimento e maturidade e, também mais liberdade. E a confiança e segurança que tive de aprender a ganhar. Há cantores que as têm naturalmente. Eu tive de aprender. Eu não caí de paraquedas, foi lento. Mas bom e teve uma certa consistência.
Sentes-te menos à prova, menos sob avaliação?
Isso também. Mas não deixo de ter algumas inseguranças na mesma. Não tenho discos meus em casa. Quando os oiço, só consigo olhar para os defeitos.
Se não fosses tu, ouvirias um disco teu?
Talvez ouvisse. Mas, como sou, não oiço (risos) Não consigo ter essa distância. Há coisas em que me apercebo de alguma falta de consistência de que ando à procura ainda hoje. Pode ser algum excesso de perfeccionismo mas lembro-me de ouvir discos meus que me deixavam deprimido. Não pelos temas, não pela gravação, só por minha causa.
Mas, quando estás em palco, não existem momentos em que tens consciência de que cantaste realmente bem?
Sim. Mas só quando estou a cantar. Se vou ouvir a gravação, já não sinto o mesmo. Até já lido bem isso, com a minha cabeça e com os meus fantasmas, já os sei mandar calar.
Provavelmente, uma consequência disso é também a tua admirável atitude de nunca fazer a vida fácil ao público: nunca entras pela via das palminhas e dos coros, quem aceita ir ouvir-te, fica obrigado a participar de toda aquela austeridade, sem crowd pleasing algum...
Mas é que também não é fácil para mim. Há aqueles artistas que têm a atitude que cantar é uma alegria, uma maravilha. Por vezes, em palco, tenho consciência de que as coisas não estão a sair bem e não consigo sair daquele ataque de pânico, não consigo libertar-me dos meus maus sentimentos todos e aquilo paralisa-me, impede-me de ter a liberdade de entregar as músicas ao público. Mas não me posso ir embora, é muito pior se me for embora. E, aos poucos, as coisas passam. Cantar não é uma alegria, é como a vida: é alegre, é sofrida, é dor, é prazer, é isso tudo junto. Implica, muitas vezes, mais sofrimento do que prazer. E é uma necessidade.
(2010)
A entrevista com Camané estava, sensivelmente, a meio quando, à mesa da esplanada de Benfica onde conversávamos, três miúdos – treze, catorze anos, no máximo – se aproximam e, tão tímidos quanto determinados, se dirigem a ele: “É o Camané, não é?...” Ele (dir-me-ia a seguir “Quando vou ao Bairro Alto, à noite, e isto, às vezes, acontece, até fico envergonhado...”), não muito menos embaraçado, confirma e escuta-os declarar quanto gostam da música e dos fados que canta. Só terá sido uma espécie de episódio-“Twilight Zone” lisboeta para quem ainda não se tenha realmente apercebido de como a ele – com novo álbum, Do Amor e dos Dias – se deve a definitiva emancipação do fado pós-Amália e a sua consagração como elo natural, indispensável e transgeracional da música portuguesa contemporânea.
Ao chegares ao sexto álbum, quando partes para uma nova gravação, o que mudou (se alguma coisa mudou) na forma como a abordas?
As coisas agora acontecem de uma maneira, talvez, mais metódica. Este é o meu disco mais conceptual, sobre o amor, o ódio, a raiva. Não é um disco romântico, é sobre o quotidiano do amor, com alguma ironia. Inspirei-me em certos fados, do Marceneiro, por exemplo, que sempre estiveram comigo. Quando falei com a Manuela de Freitas para ela escrever “A Guerra das Rosas”, pedi-lhe para ela o fazer com essa ironia.
Não abandonando o material tradicional do fado, tens vindo a optar por temas que não são exactamente fados nem pela origem nem pela sua própria configuração musical. Apesar de sempre teres afirmado que o fado, em si mesmo, é inesgotável, isso não será um sinal de que sentes que, de certo modo, ele te limita?
De facto, nunca achei que o fado tivesse limites. Pela sua personalidade melódica e também pela sua simplicidade, consegue-se revisitá-lo de uma maneira que não tem fim. Mas apeteceu-me também fazer o que a Amália, com o Alain Oulman, ou o Carlos do Carmo já tinham feito: pegar em temas que, originalmente, não eram clássicos mas que, depois, se tornaram. Trabalhar todos estes anos com o José Mário Branco também foi muito importante. Logo a seguir ao 25 de Abril, ele tinha composto o “Fado da Tristeza” e o “Fado Penélope”. Hoje, já são fados tradicionais. Neste disco, há o “Fado Pombal” que tem uma estrutura do fado tradicional de Lisboa mas, depois, há uma parte que soa a Coimbra. Como não é uma coisa nem outra mas está entre Lisboa e Coimbra, ele chamou-lhe “Fado Pombal”.
De qualquer modo, tens feito concertos em que abordas reportório completamente exterior ao fado, como standards franceses e americanos, canções pop portuguesas, dando a ideia de que sentes necessidade de respirar outros ares, de, de vez em quando, cometer um pequeno adultério (muito fadista) em relação ao fado...
Apetece-me, pontualmente, visitar outras coisas. Com os Humanos, foram duas semanas para gravar o disco e quatro concertos. O dos standards foram sete concertos. Eu sou cantor, não sou compositor e, por vezes, preciso de algumas razões para fazer outras coisas. A minha música é o fado mas sabe bem, de vez em quando, recarregar as baterias noutros lados.
Mas nunca te sentiste, realmente, saturado do fado?
Quando comecei a ouvir fado - o meu bisavô e o meu avô cantavam -, aquilo irritava-me imenso, achava esquisita aquela característica do canto. Não foi nada natural, irritava-me aquela voz fadista do meu pai. O que é certo é que, sem querer, acabei por herdá-la. Quando tinha doze ou treze anos e cantava outras coisas que não fado, afadistava-as e os meus amigos gozavam comigo. Tinha apenas três discos que não eram de fado: um do Aznavour, um do Sinatra e outro dos Beatles. Eu até pensava que não tinha jeito para cantar mas, quando comecei a cantar fado, com todas as inseguranças, apercebi-me de que, por ali, conseguia cantar.
A Cristina Branco – na minha opinião, contigo, a outra grande voz actual do fado – diz, sem hesitar, que canta fados mas não é fadista. Tu, mesmo cantando outro reportório, sempre te afirmaste como fadista...
E muito claramente. Uma coisa não é pior nem melhor do que a outra. Isso tem a ver com o percurso de cada um. Uma coisa é descobrir-se o fado aos vinte anos e outra ouvi-lo aos sete quando já o pai, o avô e o bisavô cantavam.
Como cantor, usas, hoje, a voz de forma diferente?
Claro que há crescimento e maturidade e, também mais liberdade. E a confiança e segurança que tive de aprender a ganhar. Há cantores que as têm naturalmente. Eu tive de aprender. Eu não caí de paraquedas, foi lento. Mas bom e teve uma certa consistência.
Sentes-te menos à prova, menos sob avaliação?
Isso também. Mas não deixo de ter algumas inseguranças na mesma. Não tenho discos meus em casa. Quando os oiço, só consigo olhar para os defeitos.
Se não fosses tu, ouvirias um disco teu?
Talvez ouvisse. Mas, como sou, não oiço (risos) Não consigo ter essa distância. Há coisas em que me apercebo de alguma falta de consistência de que ando à procura ainda hoje. Pode ser algum excesso de perfeccionismo mas lembro-me de ouvir discos meus que me deixavam deprimido. Não pelos temas, não pela gravação, só por minha causa.
Mas, quando estás em palco, não existem momentos em que tens consciência de que cantaste realmente bem?
Sim. Mas só quando estou a cantar. Se vou ouvir a gravação, já não sinto o mesmo. Até já lido bem isso, com a minha cabeça e com os meus fantasmas, já os sei mandar calar.
Provavelmente, uma consequência disso é também a tua admirável atitude de nunca fazer a vida fácil ao público: nunca entras pela via das palminhas e dos coros, quem aceita ir ouvir-te, fica obrigado a participar de toda aquela austeridade, sem crowd pleasing algum...
Mas é que também não é fácil para mim. Há aqueles artistas que têm a atitude que cantar é uma alegria, uma maravilha. Por vezes, em palco, tenho consciência de que as coisas não estão a sair bem e não consigo sair daquele ataque de pânico, não consigo libertar-me dos meus maus sentimentos todos e aquilo paralisa-me, impede-me de ter a liberdade de entregar as músicas ao público. Mas não me posso ir embora, é muito pior se me for embora. E, aos poucos, as coisas passam. Cantar não é uma alegria, é como a vida: é alegre, é sofrida, é dor, é prazer, é isso tudo junto. Implica, muitas vezes, mais sofrimento do que prazer. E é uma necessidade.
(2010)
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