PEDRO PASSOS COELHO: O PERFIL DE UM LÍDER (II)
"No seu apartamento em Massamá, o sol de Agosto queima a pequena varanda e reflecte-se na divisão onde coabitam a sala de jantar e a de estar, decoradas de modo sóbrio e sem sinais de luxo. A luz bate em cheio na figura alta que, com gestos desembaraçados e sem perder o fio narrativo, trata das obrigações domésticas - antes que a mulher e a filha mais nova cheguem a casa. Na cozinha, limpa os vestígios da presença das cadelinhas de estimação, fechadas ali um dia inteiro. É neste espaço, aliás, que - numa grande mesa - espalha livros e papéis, meditando na volta a dar ao país se o vier a governar.
Sempre que pára de falar, procurando uma nova reminiscência, Mini, Cuki, Nina e Peluche - com a solenidade das fêmeas que sabem o lugar cativo que ocupam no coração do homem -, viram em sincronia as cabeças na direcção do dono. A sua voz de barítono é, de resto, talvez a única extensão da sua natureza que transporta sentimentos. Quando se dirige àquela 'corte feminina', as suas cordas vocais descontraem-se, para deixarem passar o caudal de ternura. As caniches, companheiras de muitos anos, aconchegam-se a ele mal se senta em frente à lareira vazia, escutando-o com fidelidade - como se nenhuma das suas palavras fosse desperdício". (Felícia Cabrita, da primeira parte da biografia de Pedro Passos Coelho, na "Tabu"/"Sol")
(2010)
3 comments:
achas que isto é a felícia a gozar? e não me refiro à existência das caniches...
... essa dúvida, evidentemente, já aflorou e foi assaz debatida. Até agora, os resultados do debate são inconclusivos.
Mas é absolutamente obrigatória a leitura de todo o (extenso) artigo. E, para a semana, há mais.
Também a mim; mas o que parece um facto é que os cães o entendem
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