30 January 2008

PARA UMA TEORIA DO ORGASMO SONORO
(III - uma série exumada a partir daqui)



Theoretical Girls - Theoretical Girls

História da pop/rock do século XX, capítulo "no wave", final da década de 70: a quarta etapa do rock — após os primódios dos anos 50, logo a seguir à era Beatles/Stones e pouco depois dos desenvolvimentos do psicadelismo/blue-eyed-blues-boom/sinfónico-progressivo —, dedicada a acabar de vez com a flatulência instalada e a recomeçar tudo a partir da estaca-zero com o punk, dera lugar à versão disso mesmo, segundo o ponto de vista "arty". Isto é, "back to basics" menos toscamente "working class" e com mais educação formal académica e clássica. Local: Nova Iorque. Protagonistas: James Chance & The Contortions, os Teenage Jesus & The Jerks, de Lydia Lunch, os DNA e Mars, de Arto Lindsay, e vários outros que, até agora, a história só registava enquanto personagens subsidiárias. Abra-se a entrada para "Theoretical Girls". Confrontar com a outra de "Glenn Branca". Material sonoro: guitarras e bateria, teclados opcionais, um, vá lá, dois, máximo, três acordes, estética minimalista, "wall of sound" spectoriana, retórica poética, amplificadores no vermelho pós-distorção.



A bordo, os jovens eruditos iconoclastas, Jeffrey Lohn e Glenn Branca, o baterista e futuro produtor, Wharton Tiers, e a teclista, baixista e vocalista, Margaret Dewyss. Oficialmente, gravaram um single, só um single, e o resto haveria de ser, posteriormente, recuperado segundo o ponto de vista da arqueologia sonora da época. Estava já ali quase tudo que, não muito depois, seria reciclado — em formato pop — pelos discípulos Sonic Youth, Jesus & Mary Chain e descendência e, em versão sinfónica "larger than hearing life", pelo próprio Glenn Branca. Nos ramos mais verdes da árvore genealógica surgiriam, bastante mais tarde, por exemplo, Godspeed You!Black Emperor ou até Sigur Rós. Das escavações pelos sítios coevos, fica quase só a forma e a intenção: ao vivo, em maquetes ou em estúdio, se calhar, uma teoria do orgasmo sonoro segundo estes estetas, maioritaria e desgraçadamente masculinos, talvez demasiado apressado, uma visão da pop encardidamente universitária, distanciada e irónica. Parecia (e era) rudimentar mas, ainda assim, escutem e aprendam. (2002)

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