(sequência daqui) A única salvação poderá muito bem ser — mas é só um palpite... — a de passar por aquele tipo de circunstâncias nas quais, sem aviso nem piedade, somos obrigados a afocinhar na própria ignorância. Pela minha experiência, posso assegurar que é assaz pedagógico. Aconteceu no café mouro M'Rabet, do "souk" El Attarine, em Túnis, quando, por efeito da milagrosa voz de barítono que se libertava de um minúsculo leitor de cassetes, senti o mundo dilatar-se à minha volta. Talvez com curiosidade demasiado turística — então eu sabia perfeitamente quem era a diva Oum Kalthoum e desconhecia aquela voz? — atrevi-me a perguntar quem cantava. Com justo e visível desprezo, fui polidamente humilhado: "É apenas o maior cantor árabe de todos os tempos, Mohamed Abdel Wahab!". De rabo entre as pernas, fui investigar. Era tudo verdade. Tão verdade quanto a minha ignorância adicional acerca de Habiba Msika, a "femme fatale" tunisina dos anos 20, Sayid Darwich, Asmahan ou Farid al-Atrash. Às vezes, ser reduzido à condição de verme rastejante pode ser muito educativo.
25 November 2024
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment