ENTRE O SUCESSO E A EXTINÇÃO
Pergunte-se a Laurie Anderson como travou conhecimento com a personagem histórica de Amelia Earhart - pioneira norte-americana da aviação e feminista, desaparecida tragicamente sobre o Oceano Pacífico, em 1937, quando tentava realizar a mais longa viagem de circum-navegação aérea da Terra - e ela explicará que, por algum motivo, desde a infância, parecia estar predestinada a cruzar-se com ela: "Devia ter 10 ou 11 anos e adorava contar e ouvir histórias. E a maioria delas era acerca de pessoas em aviões. A minha irmã mais nova sofria de insónias e, por isso, todas as noites a adormecia com mais um episódio da história de Judy Marie, uma personagem de ficção que eu tinha criado que guardava um avião na garagem e todas as noites partia em novas aventuras". É, pois, apenas natural que, daí, possa ter resultado um álbum como Amelia onde todos os fios que, habitualmente, se cruzam na obra de Anderson surjam reactivados e recontextualizados. Se, ainda que só implicitamente, a sombra de John Cage paire sobre toda a gravação (o acaso, a indeterminação, a incorporação do silêncio como elemento musical primordial e a noção de que toda e qualquer produção sonora é potencialmente musical - dos motores do Lockheed 10E Electra à cacofonia desnorteada de sinais radio no momento da queda sobre as imediações da ilha Howland), verdadeiramente significativo é que tenhamos conhecido Laurie Anderson quando, em 1981, antecipando o terror das Twin Towers, em "O Superman" cantava "Well, you don't know me, but I know you, and I've got a message to give to you: here come the planes, they're American planes, made in America" e, agora a reencontremos recordando-nos de um outro avião que se despenhou. (daqui; segue para aqui)
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