23 September 2024

 
(sequência daqui) No novo Amelia, a personagem que Laurie Anderson encarna é Amelia Earhart, pioneira feminina da aviação, na última e trágica etapa da sua vida quando, em 1937, morreu, durante a tentativa de circumnavegação aérea do planeta. Inspirada pelos seus diários de bordo, pelos telegramas que enviava ao marido ("Ela foi a blogger original!", garante Laurie) e "por aquilo que imagino que uma mulher voando à volta do mundo pensaria", a peça já passou por três encarnações: a primeira no Carnegie Hall, em 2000 ("Uma cacofonia, provavelmente o pior que já ouvi de uma orquestra", desabafaria ela ao "Guardian"); em 2003, com a Stuttgart Chamber Orchestra com direcção de Dennis Russell Davies; e, agora, com a checa Filharmonie Brno e superlativas orquestração e direcção de novo de Russell Davies e, igualmente, a participação de Gabriel Cabezas, Rob Moose, Ryan Kelly, Anohni, Martha Mooke, Marc Ribot, Tony Scherr, Nadia Sirota, e Kenny Wolleson. Pelo seu riquíssimo e intincado labirinto, circulam as memórias de quem, muito jovem, "era apaixonada pela beleza e liberdade do céu... de braços abertos, como as asas de um avião, fechava os olhos e corria!" e que, agora, diria à "Rolling Stone", se entrega à criação de uma música, "a que chamam 'multimedia', 'art music' ou, a que gosto menos, 'experimental'. Parece que estou num laboratório a lidar com produtos explosivos!..." Se, do passado, se pode inferir algo em relação ao futuro, o de Laurie Anderson permanece insondável: "Em S. Francisco leram-me as mãos. Aparentemente, nas vidas anteriores, fui uma linha infindável de centenas e centenas de rabis. Segundo parece, na minha primeira vida, fui uma vaca. Depois, um pássaro e, a seguir, um chapéu. Provavelmente, o chapéu foi feito com as penas do pássaro. Um chapéu conta como meia vida".

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