19 July 2024

"Na Gul"
 
(sequência daqui) Em "Na Gul", apossando-se de um poema de Mah Laqa Bai Chanda, música indiana de Hyderabad e cortesã do século XVIII, Arooj coloca-a em diálogo com Chand Bibi, rainha de Ahmadnagar, do século XVI, que desagua num estuário de barroco oriental; "Aey Nehin" oferece um voluptuoso tapete de repuso harmónico; "Bolo Na" serpenteia por entre as profundas frequências do contrabaixo e e a melodia flutuante da voz; "Autumn Leaves" ("Les Feuilles Mortes", de Joseph Kosma) deixa-se extirpar de todos os clichés acumulados, mas, em contraluz, permanece fantasmaticamente reconhecível; "Last Night Reprise", sobre uma poesia de Rumi, hesita entre o enraizamento granítico e o voo desordenado; e "Whiskey" é a canção que um Tom Waits hindustânico deveria ter escrito para Rickie Lee Jones. Com os quais, como o título do álbum denuncia, Arooj partilha uma particular afeição pelas horas tardias ("Toda a gente parece melhor quando a noite cai. Não gosto de ver as pessoas à luz do dia. É do conhecimento universal que os músicos adoram a noite. A noite é nossa amiga, oferece-nos um abrigo no qual podemos mover-nos sem nos expormos tanto"). Mas, em qualquer dos casos, qual Bob Dylan pós-Newport, recusando sempre o papel de porta-voz de uma qualquer causa que lhe estaria supostamente atribuida: "Detesto ser rotulada. Não desejo transformar-me numa pessoa responsável pela defesa de uma qualquer tradição. Um artista é imensas coisas em simultâneo. Muita gente diz: 'Ela é uma cantora de ghazal (forma poética originária da Pérsia do século VII)'. Outras interrogam-me: 'Pode falar-me sobre aqueles textos secretos antigos que canta na sua música tradicional?' Por vezes, num concerto, no final da primeira canção, há já quem diga 'Ah... afinal, ela não é a deusa sufi que viemos escutar. Está a beber vinho tinto e a dizer palavrões ao microfone'. Só me apetece dizer-lhes: 'Não querem escrever um guia acerca de como eu deveria ser? Prometo que vou tentar segui-lo!'"

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