"Se De Saudade Morrerei Ou Não"
(sequência daqui) De longe, a Norte, Amélia recorda-se como, durante a colaboração que mantiveram, Lina "interrogava-se bastante sobre o que ia fazendo e tudo se centrou em ir propondo mais pistas do que escolhas, ajudar a que ela criasse mais entradas de análise para o que pretendia concretizar. Era importante trazer para o projecto aquilo que ela é: uma voz antiga, profunda". Justin Adams sabia da existência de um género musical designado como fado mas, não sendo, confessadamente, conhecedor profundo, foram-lhe enviadas como TPC gravações de Amália Rodrigues e Carlos Paredes. Não poderia ter corrido melhor: "A primeira vez que estivemos juntos foi em estúdio e, logo no primeiro dia, às primeiras horas da manhã gravámos um tema. Já tínhamos conversado antes mas houve, de facto, uma conexão imediata muito grande". A questão que, então, inevitavelmente, se coloca é a de saber se a estes painéis de melodia e silêncio (como "Senhora Minha", de Amélia), a estes inquietantes jogos de luz e sombra ("Amor é um Fogo Que Arde Sem Se Ver"), ao labirinto sonoro de "Pois Meus Olhos Não Cansam de Chorar" ou ao bilingue "O Que Temo e o Que Desejo" (com o espanhol Rodrigo Cuevas), ainda é legítimo continuar a chamar fado ou é já outra coisa que, partindo do fado se situa noutro território. "É fado. Não sei se são as palavras do Camões que servem o fado ou se é o fado que serve as palavras do Camões. A guitarra portuguesa voltou ao meu caminho e o que eu fiz neste disco foi pegar na lírica de Camões e na estrutura dos fados tradicionais - o fado bailado (que é o 'Estranha Forma de Vida'), o triplicado, o versículo, o esmeraldinha, o alexandrino, do Marceneiro... - mas também fazer um trabalho estrutural sobre quadras, quintilhas, sextilhas, decassílabos". (segue para aqui)
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