"20211130"
(sequência daqui) Agora, seis anos depois, essa “gramática e sintaxe das emoções”, uma vez mais – mas discretissimamente, como sempre –, é obrigada a reflectir a influência que “o mundo real” sobre ele (e sobre nós), inexoravelmente, exerce: na sequência de uma recidiva de grau 4 (o mais avançado) exigindo cirurgia e hospitalização, Sakamoto conta que “por volta do final de Março de 2021, à medida que fui sentindo o corpo um pouco mais leve, dei por mim a procurar o sintetizador. Não tinha nenhuma intenção de compor. Apenas desejava banhar-me num chuveiro sonoro. Parecia-me que poderia ter um pequeno efeito curativo no meu corpo e espírito arruinadoss. Até aí, mal tinha energia sequer para ouvir música, muito menos para tocar alguma coisa. Mas, depois desse dia, comecei, ocasionalmente, a tocar no teclado e a gravar pequenos esboços sonoros, como quem escreve um diário. Tentei escolher 12 dos meus esboços preferidos para este álbum. Sem adornos – publico-os exactamente como ficaram. De agora em diante, irei ter de conviver com o cancro. Mas, até que o meu corpo ceda de vez, irei, provavelmente, manter esta espécie de diário. Espero poder fazer música durante algum tempo mais”.
(álbum integral aqui)
12 é, assim, tanto uma recolha das entradas desse diário – os títulos das faixas, começando em "20210310" correspondem tão só às datas em que foram registadas – como uma terapêutica em doses homeopáticas de essências sonoras finamente decantadas, das quais Sakamoto extrai apenas as moléculas estritamente necessárias para que seja possível dar o salto que permite passar dos meros conceitos de altura, duração, volume e timbre para o de música. Um documento da persistência da vida feito de reflexos infinitesimais de Debussy, Bach ou Chopin, em contagem decrescente para o silêncio derradeiro.
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