16 January 2023

Polytope de Cluny 1972 1974
 
(sequência daqui) Da série dos Polytopes – criações espaciais que estabeleciam o diálogo entre som, luz, cor e arquitectura durante as apresentações ao vivo, antecipando o futuro conceito de multimedia – a Metastasis (1953/1954), para orquestra, na qual cada músico executa partes independentes, Terretektorh (1966), que buscava a espacialização do som distribuindo os músicos por entre o público, ou Jonchaies (1977) onde o silvo melódico inicial se encaminha para sucessivos blocos de estridente caos sonoro produzido por 109 músicos, a música avassaladoramente física de Iannis Xenakis contém alguns dos momentos mais assombrosamente brutais do século XX. Sobre ela, diria o ateu Xenakis: “O homem é uno, indivisível e total. Pensa com o ventre e sente com a mente. Gostaria de propor o que, para mim, cobre o termo ‘música’: um ascetismo místico (mas ateu)...” Em exibição no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian até 27 de Março de 2023, a exposição Révolutions Xenakis oferece-nos a oportunidade de, sob diversos ângulos, no ano do seu centenário, contactar directamente com os instrumentos de trabalho de Xenakis – partituras, gráficos, aproximações à experiência dos Polytopes, projectos de arquitectura – e, por aí, entender de modo mais próximo a sua viagem singular pela música contemporânea.

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