12 November 2022

 
(sequência daqui) Na altura, Lou Reed preparava-se para, após as proverbiais bandas de liceu e de faculdade (na Syracuse University), abandonar a Pickwick Records – uma editora manhosa de "covers" de êxitos do momento na qual trabalhava desde Setembro de 1964 – e desejava assegurar-se de que aquilo que gravara na bobina, enviada para a casa dos pais onde ainda vivia, era propriedade intelectual sua. Na autobiografia (escrita a meias com Victor Bockris), What’s Welsh For Zen,  John Cale – “that starving viola player from Wales”, como Reed lhe chamava – conta que Lou lhe mostrou algumas das que viriam a ser futuras canções dos Velvet Underground “como se fossem canções folk”. Voltavam a ser, finalmente, escutadas em 2017, sempre identificadas pela voz de Lou que anuncia “Words and music by Lou Reed”. Na verdade, o espectro que paira sobre várias destas faixas é o de Bob Dylan. Se, desde o início, Reed sempre vomitara ácido sobre a maioria dos seus contemporâneos – Frank Zappa era “provavelmente, a pessoa menos talentosa que alguma vez conhecera, um académico pretensioso incapaz de tocar seja o que for”; os Doors eram “dolorosamente estúpidos e pretensiosos e, quando desejavam ‘fazer arte’, eram ainda piores que o rock’n’roll mais estúpido”; os Who, “absolutamente desprovidos de talento e filosoficamente aborrecidos”; e aos Beatles - embora viesse a mudar de opinião – dirigiria o mimo “Nunca gostei dos Beatles, nunca passaram de lixo. Não estou a ser sarcástico, estou só a ser honesto. Acho que os britânicos nunca deveriam dedicar-se ao rock’n’roll. Não tenho respeito nenhum por eles. Safam-se os Stones e uma ou outra coisa de Ray Davies mas a verdade é que nunca levei o rock’n’roll britânico a sério. E continuo a não levar” –, em relação a Dylan, tratava-se de um despique entre iguais.
 
 
Como ele dizia, em 1989, à “Rolling Stone, “Para além de Dylan, não existe muito mais. Compro sempre os álbuns dele. Ele sabe como trabalhar uma frase. Todo o resto não passa de pop sobre a qual não tenho nenhum interesse. Mas o Dylan surpreende-me sempre”. Á “Uncut”, Laurie Anderson confirma tudo: “Dylan é a resposta para a maioria das coisas em Words & Music, May 1965. A harmónica, o gemido vocal, a tonalidade. A empatia com o ‘underdog’, não a voz do heroico poeta autor de canções. De vez em quando, falávamos sobre Dylan e o Lou tinha um grande respeito por ele. Uma vez, brigaram acerca de saber qual dos dois era verdadeiramente Rimbaud. Mais do que serem cantores, eram essencialmente, escritores, autores de canções letrados, não apenas fulanos que alinhavam umas rimas. A coisa mais importante em que reparei no arquivo dele é que andava permanentemente à procura de formas de escrita diferentes. Depois do fim dos Velvet Underground, pensou dedicar-se apenas à poesia. Escreveu um livro sobre Tai Chi na mesma linguagem que utilizava nas canções”. (segue para aqui)

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