23 October 2022

Habituemo-nos àquilo a que nunca nos deveríamos habituar

"A guerra da Ucrânia vai-se agravar em termos militares, em termos de destruição, em termos de mortes civis. A guerra da Ucrânia não tem solução negociada. A guerra da Ucrânia vai-se alastrar em termos geográficos e nacionais. A guerra da Ucrânia vai chegar ao limiar de um conflito nuclear, não penso que o ultrapasse. Para já. Quem não compreende isto não se prepara como deve. Nenhuma previsão realista pode deixar de ter em conta estas circunstâncias: estamos em guerra com todas as consequências económicas, sociais, militares e políticas. Não é uma questão de a desejarmos, é um facto. As acusações de belicosidade só podem ter um destinatário, Putin, e, quando não têm e misturam tudo, são pura hipocrisia. 

Acho, apesar de tudo, que vários governos democráticos, incluindo o português, já o perceberam. Podem não ter tirado ainda todas as consequências, mas sabem que vamos conhecer anos, senão décadas, marcados pela guerra da Ucrânia, seja 'a quente' seja 'a frio'. Deixo de parte os aliados objectivos de Putin, quer na direita, quer na esquerda que, mesmo com um palavreado sobre a 'paz', a última coisa que desejam é que a Rússia perca a guerra que provocou. (...) 

A afirmação de que esta guerra não tem solução negociada é talvez a mais controversa e a que precisa de explicação. Em bom rigor, penso que nunca a teve, mas agora é mais evidente que não tem, desde que a Rússia anexou os territórios ucranianos na federação. Este é um ponto sem retorno, porque a partir da anexação não é possível haver uma paz que não seja a rendição da Ucrânia com perda do seu território nacional. Por outro lado, Putin nunca pode recuar nessa incorporação imperial, sem admitir que perdeu a guerra e que as reivindicações territoriais russas na Ucrânia, incluindo a Crimeia, na Geórgia, na Moldova, são ocupações por uma potência estrangeira. Se a paz já era difícil, depois das anexações é impossível. Quem continua a falar de 'paz', assobiando para o lado depois dos referendos fantoches e da formalização da anexação pela Federação Russa num simulacro de legalidade, de novo quer apenas a rendição da Ucrânia (...)" (JPP)

11 comments:

Anonymous said...

"Deixo de parte os aliados objectivos de Putin, quer na direita, quer na esquerda"

Em Portugal aliados objectivos de Putin, só na esquerda.
P.P. não o evidencia, percebe-se porquê.

João Lisboa said...

"P.P. não o evidencia, percebe-se porquê"

Porquê?

Paulo Mariano said...

Porque não lhe interessa apresentar essa evidência. Porque é uma criatura ideológica de esquerda e, desse modo, equilibra o mal dos aliados pelos dois campos. É dos tais que alimenta a divisão esquerda/direita para ficar de boa consciência e ter um lugar no panteão ideológico socialista.

João Lisboa said...

... análise quase freudiana... (isto não é um elogio)

Music lover said...

Aliados (de Putin) objectivos só na esquerda, e, segundo Paulo Mariano, Pacheco Pereira estaria a "não evidenciar" esta esquerda/Putin.
Não consigo encontrar estas "evidências" no texto, o que leio é uma inequívoca atribuição da culpa ao agressor, sem desculpas.

Anonymous said...

Não é verdade. Amplos sectores da direita, com todo o Chega, PP, e os grandes interesses empresariais dentro do PSD (e do PS), oscilam entre o total partidarismo por Putin (Chega) e clamor por solução negociada (todos os outros). Não tenhamos dúvidas: um soluçao negociada é estar do lado de Putin.

Miguel said...

«um soluçao negociada é estar do lado de Putin»

Tal como uma "solução negociada" no pós-Guerra (divisão da Europa a meio) foi "estar do lado do Estaline". E a alternativa, qual era então e qual é hoje? Estender a guerra civil da Grécia/invasão da Ucrânia ao resto do continente/globo?

Music lover said...

"Não é verdade. Amplos sectores da direita, com todo o Chega, PP, e os grandes interesses empresariais dentro do PSD (e do PS), oscilam entre o total partidarismo por Putin (Chega) e clamor por solução negociada (todos os outros). Não tenhamos dúvidas: um soluçao negociada é estar do lado de Putin."

Exactamente, tem apoios de esquerda e de direita, PCP, Berlusconi, etc.
Em relação à solução negociada, é muito simples, a Rússia está disponível para negociar, desde que seja tudo nos seus termos...

Music lover said...

Claro que negociar é sempre, sempre melhor do que lutar. Mas como negociar se uma das partes adianta logo que, sim, está aberta à negociação, mas que nada será tratado sem a capitulação da outra parte?

Ana Cristina Leonardo said...

http://wwwmeditacaonapastelaria.blogspot.com/2022/10/putunistas-infiltrados-nos-eua-e.html

João Lisboa said...

Esta guerra - como todas as guerras - acabará por ter uma solução negociada. Na situação actual que não sabemos quanto tempo durará, não há negociação possível. O que não significa que não se mantenha os contactos diplomáticos.