25 February 2022

"The Forest"
 
(sequência daqui) À “Harvard Gazette” tentou justificar-se: “Tenho a certeza que o comité Norton, de Harvard, cometeu um erro enorme quando me convidou. Deve ter sido apenas o meu sentido do absurdo que me levou a aceitar”. Terá sido isso mas também o sonho muito antigo de ter um programa de rádio de horário noturno, “àquela hora em que os ouvintes estão já meio adormecidos ou a tentar adormecer de novo, quando a realidade e os sonhos se confundem e é difícil descobrir-lhes as diferenças”. O convite tivera lugar antes do início da pandemia mas, no momento em que se concretizou, seria inevitável que se realizasse por videoconferências Zoom organizadas em 6 episódios temáticos de cerca de hora e meia cada – “The River”, “The Forest”, “Rocks”, “The Road”, “The City” e “Birds” – submetidos ao título genérico “Spending the War Without You: Virtual Backgrounds”, enfim disponíveis, na totalidade, através do YouTube.
 
"Rocks"
 
Insistentemente ritmados por interrogações que, sobre um fundo de interlúdios musicais ambientais, apontamentos e comentários de violino, piano e electrónica, se repetem e desdobram (“What war is this?”, “What time is it?”, “Why do anything?”, “How do you know what’s good?”, “What did you come here for?”, “What do you want?”), extractos, fragmentos, deixas de toda a obra anterior, actuam como gatilho e trampolim para tudo o que nestas cerca de 9 horas se vai descobrindo, um pouco ao acaso, segundo o consagrado modus operandi de Anderson que ela designa como “histórias de cão vadio”: “Vão por aqui, por acolá, viram uma esquina, dão quinze voltas ao quarteirão antes de voltarem ao presumível tema. Laurence Sterne foi o mestre desse tipo de escrita. Pode soar pretensioso mas, com todos esses 'jump cuts', procuro reproduzir a forma como penso. Não se trata de realismo ou de tentar simular o funcionamento do cérebro. A divagação é o meu método, lançando a rede, adiando um pouco mais o final, tentando viver, sem limites, no presente. Desconfio muito do modo como as histórias habitualmente funcionam, como se a estrutura as obrigasse a um final determinado. E a maioria das coisas não o tem... Muita gente também imagina que a vida tem de ser assim, com princípio, meio e fim. ”. (segue para aqui)

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