O PONTO ONDE TUDO REBENTA
Há três anos e ao 12ª álbum, os Low - Mimi Parker, Alan Sparhawk e, então ainda, Steve Garrington – despiam definitivamente a pele do "slowcore" (que, na verdade, sempre haviam rejeitado) e entregavam-se a um exercício de autêntica metamorfose: Double Negative, um dos mais assombrosos álbuns de 2018, soterrava as canções em avalanches de estridência e dissonância, electrocutava melodias e harmonias e, numa reacção quase instintiva aos anos da peste-Tump, autorizava que, pelo meio da tempestade electro-acustica, se decifrasse uma espécie de SOS invertido: “It's more let it out than let it go, it's not the end, it's just the end of hope”. Agora que, com Hey What, se dispõem a cartografar o território então descoberto, Alan e Mimi conseguem já traçar as linhas que unem esse tempo com o do pesadelo pandémico que se lhe seguiu e que esteve também como pano de fundo do novo álbum: “Tínhamos tudo isso na cabeça, evidentemente. Mas somos ambos muito pouco deliberados no que escrevemos. Não planeamos os tópicos sobre que vamos escrever. O que acaba por surgir são as nossas reacções ao que acontece à nossa volta. No ano passado, houve também os enormes protestos Black Lives Matter. Foi como um grande despertar profundo da América sobre a necessidade urgente de pensarmos o que deveríamos fazer. Ainda estamos a sair dos anos Trump... foi uma época horrível para a qual a pandemia foi a cereja em cima do bolo. E houve todos aqueles medos que vieram à superfície: o que irá acontecer se não puder sair daqui? Se não puder estar com a minha família e com os meus amigos?... ‘Days Like These’ foi escrita imediatamente antes da pandemia e era um olhar sobre quão ridícula a atmosfera política e social se havia tornado. E sobre quem, na realidade, somos e tudo aquilo que supúnhamos indiscutível, enquanto raça, género... Darmo-nos conta quando já somos mais velhos, de que a nossa forma de ver as coisas está errada, é bastante estranho”. (daqui; segue para aqui)
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