23 May 2021

(sequência daqui) Afinal, este era o disco que desde sempre desejara gravar: “Nunca tive a menor dúvida. Tinha-o na cabeça. Penso nele há tanto tempo que sabia exactamente o que pretendia”. Por volta dos 14 anos, comprara o Golden Treasury of English Songs and Lyrics, de Francis Palgrave (uma antologia de poetas ingleses), e, daí em diante, apaixonar-se-ia irremediavelmente pela poesia romântica britânica. Na St Joseph’s Convent School que frequentava, Mrs Simpson, a professora de Inglês – “Obviamente, não uma freira!” –, encorajou-a e, bastantes anos mais tarde, Allen Ginsberg nomeá-la-ia “Professor Of Poetics at the Jack Kerouac School Of Disembodied Poets”. Lord Byron, John Keats, Percy Bysshe Shelley, Thomas Hood, William Wordsworth e Lord Tennyson viriam, enfim, a encontrar-se, em admirável enunciação "posh", na voz magnificamente devastada de Marianne, envolvida pelos véus sonoros de Ellis, Brian Eno, Nick Cave e do violoncelista Vincent Ségal. “Tive sempre esta ideia de gravar o mais belo álbum de poesia com acompanhamento musical mas não conseguia imaginar quem poderia estar interessado em publicá-lo. Quando conheci estes poemas, era uma miúda esperta e bonita e imaginava que eram todos acerca de mim. Agora, creio ser a coisa mais perfeita para este momento que vivemos. Quando os leio, vejo-os como um rio, como uma montanha, são belíssimos e reconfortantes. E acabei por descobrir que não tinham sido escritos sobre mim”. Não é impossível que os pulmões de Marianne possam impedi-la de voltar a cantar mas, a ter de ser assim, não será esse ainda o golpe que a derrubará: “Tenho 74 anos e não me sinto amaldiçoada nem invencível. I just feel fucking human”.

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