(sequência daqui) Tema inevitável é a questão de porquê, ao longo de todos este tempo, os MBV apenas terem publicado três álbuns, tendo decorrido 22 anos entre Loveless e m b v. Qual era, então, o objectivo, num momento em que os discípulos "shoegaze" proliferavam? Algo tinha ficado por dizer ou tratava-se apenas de ampliar o território que, antes, já tinham desbravado? “O processo de fazer música é álgo que decorre apenas no presente. Quando faço música nunca penso, especificamente, no passado. Acontece naquele momento e para aquele momento. Comecei a gravação de m b v em 1996, trabalhei nele durante cerca de seis meses. Era pouco mais do que uma colecção de ideias dispersas. Foi quando voltei a pegar-lhe em 2011 (e, especialmente, em 2012) que a maioria da música – para aí, 70% dela – surgiu: as diversas peças criaram um mundo para si próprias e apercebi-me que existia uma atmosfera maior que lhes dava um sentido. Mas não estava, realmente, a pensar em qualquer tipo de relação que poderia ter com outras bandas ou com gravações anteriores”. Mas, quando, agora, o escuta, encara-o como a terceira parte de uma peça maior ou cada um dos três álbuns é uma entidade inteiramente autónoma?
Kevin Shields interpõe uma longuíssima pausa – em quase hora e meia de conversa, pelo menos um terço são pausas – e, por fim, avança: “Parece-me ser mais a segunda hipótese. Essencialmente, todos soam a My Bloody Valentine. O Isn’t Anything foi o nascimento da banda que viríamos a ser. Era um disco deliberadamente cru, produzido de uma forma bastante simples – sem nenhuma pós produção, 'double tracking' ou compressão – o que o distancia dos outros, especialmente nas vozes. O que nada tinha a ver com a forma completamente diferente como abordámos o Loveless. O m b v foi gravado sob ainda um outro feitiço: nos dois primeiros, tinha a perspectiva de estar a lidar com emoções e intuições extraordinariamente poderosas que, inconscientemente mas com um rumo muito preciso, me conduziam. Com o m b v, estava mais desperto para essas intuições e para o que, me guiava. As coisas tornaram-se mais literais e menos abstractas. Um pouco como acontece no processo de crescimento (que pode ser doloroso e traumático) quando uma criança se transforma em adulto. A sensação de que o passado desapareceu e o futuro é desconhecido mas inevitável. Se era dificil explicar verbalmente os dois primeiros álbuns, no caso do m b v, isso já não acontecia. O Isn’t Anything era rude, o Loveless era puramente instintivo, e o m b v habitava já uma versão do mundo não muito diferente daquele em que, actualmente, vivemos, no qual a ideia de que tudo continuará a ser como antes deixou de se justificar. Oiço falar disto desde miúdo mas, nos últimos anos, a preocupação com a urgência de evoluirmos e nos tornarmos mais atentos às muitas crises que colocam o mundo em risco, tornou-se muito mais intensa”. (segue para aqui)
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