O "Ur-Fascismo" (VII)
"13. O Ur-Fascismo assenta num 'populismo qualitativo'. Numa democracia, os cidadãos gozam de direitos individuais, mas o conjunto dos cidadãos só está dotado de um impacto político do ponto de vista quantitativo (seguem-se as decisões da maioria). Para o Ur-Fascismo, os indivíduos enquanto indivíduos não têm direitos e o 'povo' é concebido como uma qualidade, uma entidade monolítica que exprime a 'vontade comum'. Como nenhuma quantidade de seres humanos pode possuir uma vontade comum, o líder pretende ser o seu intérprete. (...) O povo é, assim, só uma ficção teatral. (...) No nosso futuro perfila-se um populismo qualitativo TV ou Internet, em que a resposta emotiva de um grupo seleccionado de cidadãos pode ser apresentada e aceite como a 'voz do povo'. Devido ao seu populismo qualitativo, o Ur-Fascismo tem de opor-se aos 'putrefactos' governos parlamentares. Uma das primeiras frases pronunciadas por Mussolini no parlamento italiano foi: "Eu poderia transformar esta sala surda e pardacenta numa caserna para os meus manípulos'. De facto, arranjou logo um alojamento melhor para os seus manípulos, mas pouco tempo depois liquidou o parlamento. Sempre que um político lança dúvidas sobre a legitimidade do parlamento por já não representar a 'voz do povo', já podemos dizer que cheira a Ur-Fascismo" (Umberto Eco, Como Reconhecer o Fascismo/Da Diferença Entre Migrações e Emigrações, 1997)
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