09 March 2021

(sequência daqui) A resposta é não, não pode. “Of all the many things that you may ask of me, don’t ask me for indifference” diz ela, no nono capítulo desta averbação – ampliada, reflectida, redobrada – do divórcio entre a espécie humana e a Terra, etapa mais recente de um percurso com rumo bem definido: “Escrevo canções acerca de coisas que existem. É uma forma de combater aquela música que é, frequentemente, sobre fantasias. Prefiro concentrar-me na realidade e em verdades mais profundas e que passam despercebidas”, lê-se na biografia do Bandcamp. É, justamente, por esse lado que entram Varda e a enigmática personagem dos espelhos: “A câmara pretende convencer-nos que sabe tudo mas não sabe. Quis apenas abrir um pequeno portal para que as pessoas pudessem compreender que há mais coisas para ver. A ideia era atrair o olhar e devolvê-lo imediatamente. Como se eu fosse invisível. E também uma metáfora visual para como nos sentimos quando actuamos: para o bem e para o mal, as pessoas projectam-se em nós e esperam que lhes enviemos um reflexo”, explicou à “Pitchfork”.

 

O grande tema, mesmo quando isso não é aparente, é a arrasadora devastação a que o planeta tem sido submetido às mãos da ignorância politicamente motivada. Mas sem nunca recorrer a palavras de ordem nem agitar bandeiras para que se entenda que “the robber” personifica a avidez capitalista legalizada (e até sedutora: “When I was young, I learned how to make love to the robber, to wring from his hand the touch of a lover”) ou que "Wear" (“I tried to wear the world like some kinda jacket, it does not keep me warm, I cannot еver seem to fasten it“) não tenha sido inspirado por desfiles de moda. “Esse tipo de linguagem panfletária, musicalmente, nunca resulta, a menos que estejamos a escrever uma canção de protesto. Já tentei fazê-lo e falhei sempre. Escrever uma canção de protesto é a coisa mais difícil em que se pode pensar”. (segue para aqui)

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