ALMANAQUE DE EMOÇÕES
Quando, após 63 anos a despachar, por encomenda, 500 concertos, 40 cantatas, 22 óperas, e mais de 60 peças de música sacra, Antonio Vivaldi, em 1741, morreu como um quase indigente, ninguém se arriscaria a prever que, 200 anos mais tarde, haveria de ser celebrado enquanto autor de um dos “greatest hits” do reportório “clássico”, As Quatro Estações. A popularidade da sua música já tinha visto melhores dias e, de facto, até ao fim dos anos 20 do século passado – quando uma colecção de centenas de partituras suas foi descoberta num mosteiro perto de Turim –, caíra completamente no esquecimento. Desse momento em diante, porém, de adereço sonoro publicitário a toque de telemóvel, não haverá muito quem, mesmo ignorando tudo sobre este precursor da Tin Pan Alley com uma costela proto-punk (é favor ouvir os 3 minutos e picos da totalidade do Concerto "Alla Rustica"), não lhe tenha passado pelo menos um fragmento das Estações pelos tímpanos.
"Harvest" (c/ Kayla Cohen)
Inevitavelmente, o impulso para as citar, parafrasear e reinventar foi fortíssimo e a ele não resistiram, ente muitos outros, os Swingle Singers, Philip Glass, Piazzolla, Max Richter ou, mais recentemente, Anna Meredith, em Anno (2018). É, agora, a vez dos Modern Nature que, após a estreia, How To Live (2019), inspirada pelo jardim de Derek Jarman em Dungeness, quase por acidente, em Annual, retomaram o modelo: ”Pelo fim de 2018, comecei a preencher um diário com palavras, observações de caminhadas, descrições de acontecimentos, associações livres... relendo-o, à medida que o ano progredia do Inverno para a Primavera, do Verão para o Outono, a tonalidade do diário parecia mudar também. Dividi o diário em quatro estações e usei-as como matriz para as quatro canções principais”, explica Jack Cooper que, com o saxofonista Jeff Tobias (Sunwatchers) e o percussionista Jim Wallis, constitui os Modern Nature. Calendário conceptual e almanaque de emoções e memórias, é um breve ciclo de canções em filigrana, com a poética da folk, a paleta do lirismo jazz e a respiração de um minimalismo pastoral.
4 comments:
Boa tarde,quatro estações precisamente,o passaro de cima parece-me um Abibe(aparecem muitos no inverno),embora alterado cromaticamente,o segundo é uma Andorinha das chaminés,o terceiro ,um Andorinhão e o terceiro um Açor(com cores diferentes).Grande capa,sim senhor,vou ouvir esta musica.Obrigado João lopes
Temos ornitologista? :-)
Sim,mas em Miranda do Douro ,temos Grifos,quarenta graus ou mais,e ainda a posta á Mirandesa da Dona Gabriela,em Sendim.Entretanto,já estou no Tejo,com as aguias pesqueira(ou seja,a bela fataça grelhada com salada).E temos,ao contrario do que (não) diz,o senhor presidente,um "belo" de um país racista como o caraças.Alias,estou tão queimado das observações,que ainda levo um tiro,como as perdizes,por exemplo. João lopes
Quando "o senhor presidente" puder voltar a beijocar e lambuzar o país ele fica logo todo anti-racista e anti-xenófobo. Boquinha santa!
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