DILETANTES GENIAIS
Faltava ainda quase uma década para que a Alemanha deixasse de estar dividida em Leste e Oeste mas, no início dos anos 80, com polos em Dusseldorf, Hamburgo, Colónia, Hagen e, naturalmente, Berlim, um desassossego subcultural agitava músicos, artistas, gente do cinema, da fotografia, da moda e do design, oxigenada pelas correntes de ar fresco que sopravam do pós-punk novaiorquino e britânico. Foi por essa altura – pouco depois de David Bowie ter gravado a “trilogia de Berlim” e em simultâneo com a chegada à cidade do Spree de Nick Cave e dos Birthday Party – que travámos conhecimento com Einstürzende Neubauten, Die Tödliche Doris, Sprung Aus Den Wolken, Der Plan, Freiwillige Selbstkontrolle (F.S.K.), Palais Schaumburg, Ornament & Verbrechen, e Deutsch Amerikanische Freundschaft (D.A.F.), praticantes de abalos sonoros que tanto se alimentavam do futurismo, dadaismo e situacionismo como dos Cabaret Voltaire, Throbbing Gristle, Glenn Branca e William Burroughs.
O seu momento histórico ocorreria a 4 de Setembro de 1981, quando, no Tempodrom de Berlim Ocidental, teve lugar o festival “Geniale Dilletanten” (Diletantes Geniais), ponto de encontro de radicais livres, agitadores e provocadores vários e futura designação geracional do informal movimento. No interior dele, Gudrun Gut, Bettina Koster, Beate Bartel, Christine Hahn, Manon P. Duursma e Susanne Kuhnke, aliás, Malaria!, oriundas de incubadoras artísticas diversas mas absolutamente enxutas de qualquer sarro académico, foram um colectivo feminino de relativamente curta duração em cujo acelerador de partículas colidiam desgovernadamente o punk, techno, jazz, Kurt Weill, batida motorik, Bowie, disco e Nico. Compiled 2.0/Full Emotion – reeditado em vinil duplo – é uma preciosidade a (re)descobrir.
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