O MÉTODO
Pense-se o que se pensar acerca da actividade dos "bootleggers" – desde os que, no início do século passado, contribuiram de modo decisivo para a documentação da história do jazz até todos os outros que, durante as décadas de 60, 70, 80 e 90, foram desocultando uma fabulosa discografia paralela de milhares de músicos e bandas –, há que reparar como, ao longo dos anos, muitos "bootlegs" vieram a ser “oficializados” (exemplo inevitável: as Basement Tapes, de Bob Dylan, e a subsequente “Bootleg Series”) e até encorajados por notórias “vítimas” da pirataria, caso de Springsteen ou dos Grateful Dead. A história está eloquentemente relatada em Bootleg!: The Rise and Fall of the Secret Recording Industry, de Clinton Heylin (2004), mas ninguém estaria à espera que, em 2019, fosse indispensável acrescentar-lhe um novo capítulo. A verdade é que também poucos seriam capazes de prever que esta seria a data em que, pela primeira vez desde há 33 anos, as vendas de registos sonoros em vinil ultrapassariam os CD e – mais dificilmente imaginável – as vetustas cassetes, se preparam para igualar números de há 15 anos. 80% da receita da indústria discográfica deve-se ainda, evidentemente, ao "streaming", mas os sinais de recuperação dos outros suportes são inegáveis.
Altura ideal, pois, para acrescentar ao catálogo de The National um novo título, ao vivo, em cassete tripla, e, simultaneamente, homenagear o lendário "bootlegger" Mike "The Mike" Millard: se tudo tiver corrido de acordo com o plano, na passada sexta-feira, por ocasião da Record Store Black Friday, terá sido publicado The National: Juicy Sonic Magic, Live in Berkeley, September 24-25, 2018, antecedido de uma semana por Juicy Sonic Magic: The Mike Millard Method, um documentário realizado por David DuBois), no qual se explica o ardiloso “método” – entrar nos recintos dos concertos convenientemente sentado numa cadeira de rodas (de que não tinha necessidade), onde dissimulava um pesado gravador de cassetes Nakamichi 550 e os microfones AKG 451E por meio dos quais registou com enorme qualidade sonora praticamente todos os concertos, em particular dos Rolling Stones, Led Zeppelin e Pink Floyd, que entre 1974 e 1980, tiveram lugar no Los Angeles Forum e noutras salas do Sul da Califórnia. Sem cadeira de rodas mas com o mesmo material, coube ao produtor Erik Flannigan, replicar, agora, o “método” nos dois concertos da banda de Matt Berninger, no Greek Theatre. Com a tal “juicy sonic magic”, espera-se.
2 comments:
Oiço música em CD e na rádio, mas não excluo adquirir um gira-discos e um streamer.
Viva a fartura! Ninguém pode queixar-se de falta de música no ar.
A Dangerous Minds dá a conhecer um bootleg de The Last Waltz, sans Robbie Robertson/Martin Scorcese, mais completo (o que pode querer dizer mais completo?), por editar e, na opinião de quem escreve, muito melhor que o original. Só vendo mesmo, para crer.
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