02 May 2017

TRANSATLÂNTICO

  
Lloyd Cole nunca o admitiu mas tudo aponta para que partilhe aquela opinião de Oscar Wilde na qual ele confessava “Sou um homem de gostos simples. Para mim, o melhor basta”. Se não, repare-se: em 1988, aos 28 anos, recém-saído do divórcio – mais ou menos amigável – com os Commotions e acabado de se expatriar para Nova Iorque, quando pensa em guitarristas com quem poderia trabalhar, não faz a coisa por menos – Richard Thompson ou Robert Quine. Nunca saberemos (mas podemos sonhar muito alto...) o que poderia ter resultado caso a primeira hipótese se tivesse concretizado mas ninguém duvida que a contribuição do segundo – com quem gravou Lloyd Cole (1990), Don't Get Weird On Me Babe (1991), Love Story (1995) e Etc. (2001) – não subtraiu quaisquer pontos à reputação que conquistara com os Voidoids, Material, Tom Waits, James White, Lydia Lunch ou Lou Reed, e acrescentou muitos à de Cole. Por arrasto, veio o baterista e produtor Fred Maher (acabadinho de se sentar ao leme do avassalador New York, de Reed), com currículo nos Massacre (de Fred Frith e Bill Laswell), Material, Scritti Politti e ao lado de Quine. 



Já ao necessitar de um arranjador/orquestrador para Don't Get Weird..., o primeiro nome que lhe ocorreu foi o de Paul Buckmaster, sim, o de "Space Oddity", de Bowie, Songs Of Love And Hate, de Cohen, Terrapin Station, dos Grateful Dead, e On The Corner, de Miles Davis. E, porque a separação não tinha sido verdadeiramente litigiosa, os ex-Commotions, Blair Cowan e Neil Clark, haveriam de voltar ao redil para que todos os laços com o passado não fossem cortados nos primeiros quatro tomos da emigração transatlântica. O sucesso popular de Lloyd Cole and The Commotions nunca mais se repetiria mas isso – por mais que, igual a si mesmo, Lloyd não desista de ser o seu mais venenoso crítico – de modo algum significa que “a tetralogia de Nova Iorque” agora reunida na caixa de 6 CD Lloyd Cole In New York: Collected Recordings 1988-1996 (Lloyd Cole, Don't Get Weird On Me Babe, Bad Vibes, 1993, Love Story, Smile If You Want To – inédito mas cujas canções seriam publicadas em Etc. e Lloyd Cole & The Negatives, 2001 –, e uma recolha de Demos: 89-94), alojasse canções menos que excelentes. Ou seja, matéria de estudo e prazer obrigatórios.

2 comments:

Anonymous said...

A tentativa de transformar Lloyd Cole pós-Commotions num sex symbol foi um pouco patética, como se vê no videoclip. Mas as canções continuaram boas.

João Lisboa said...

Sex symbol???...