31 July 2015

Momus - "The Driver"

"O filisteu cultivado não despreza os objectos culturais. Pelo contrário, na boa sociedade cultivada sente-se como peixe na água. Para ele, a cultura é mesmo uma moral e, por conseguinte, uma prescrição: a prescrição da transparência, da homogeneidade, dos discursos bem oleados em que tudo corre sobre rodas. O filisteu cultivado ama a cultura, habita-a como casa sua, mas na condição de ela estar bem limpa e isenta de tudo o que provoca atrito. Vive em estado de plenitude cultural e acha que tudo o que lhe escapa — e é muito — pura e simplesmente não tem sentido" (aqui)

“I am a punk who reads The Economist

ENTRE DOIS MUNDOS 



Duas décadas e meia depois, os arquivos da Internet continuam a encher-se com contribuições, mais ou menos esotéricas, de hermeneutas e exegetas entregues à missão de decifrar o famigerado poema de Twin Peaks: "Through the darkness of future past, the magician longs to see, one chants out between two worlds, fire walk with me”. É, pois, absolutamente natural que a exposição dedicada à obra de David Lynch que esteve em exibição, durante o segundo trimestre deste ano, na Queensland Art Gallery/Gallery Of Modern Art, de Brisbane, na Austrália, tenha sido designada “David Lynch: Between Two Worlds”. E não menos previsível terá sido o facto de, a 18 de Abril, os Xiu Xiu haverem participado no programa da exposição interpretando a banda sonora de Angelo Badalamenti/Lynch: a relação da peculiaríssima banda de Jamie Stewart, Shayna Dunkelman e Angela Seo com as mais labirínticas minudências twinpeakianas vai ao ponto de o seu nome ter sido retirado do filme Xiu Xiu: The Sent Down Girl (1998), realizado por Joan Chen, aliás, Josie Packard, a proprietária da serração de Twin Peaks.



Stewart não poderia ser mais explícito: “A música de Twin Peaks representa tudo aquilo a que aspiramos como músicos e é tudo o que, como fãs, desejamos ouvir. É romântica, aterradora, perturbantemente sexual. A ideia de expor a ‘pureza’ dos anos 50 contra a luz gelada de uma lua violenta e de desocultar o crânio por trás de um sorriso inquieto e paralisado foi, para nós, uma assombrosa influência. Não há forma de recriarmos a música de Badalamenti e Lynch do modo que foi, originalmente, criada. É demasiado perfeita e nunca poderíamos fazer-lhe justiça. Tentámos tocar as canções respeitando melodia e harmonia mas seguindo a nossa intuição musical, enfatizando a atmosfera de caos, drama, pavor e ruído”. Extractos da superior colisão de momentos de brutalidade sonora e "crooning" psicótico podem ser ouvistos no YouTube bem como o “making of”. A notícia verdadeiramente boa, no entanto, é que, qual "hors d’oeuvre" da anunciada terceira temporada da série, o concerto será repetido a 8 de Outubro, na Church of St John, em Londres, ao qual poderão ser adicionadas outras datas na Europa. Atenção, muita atenção, porém, ao aviso: “Killer BOB will be conducting”.
Tem sido uma casa com "madame" e tudo

("Sol")

26 July 2015

... possibilidade que apenas poderá ser concretizada se não obrigarem o intelectual do Largo do Rato Mickey a andar de Renault Clio, claro!

"Computer experts have long warned about a catastrophic cyber-attack in the US, a sort of Web 3.0 version of 9/11 that would wreak enormous damage throughout the country. Like most Americans, I shrugged. With all of the enormous resources the country enjoys, those warnings seemed like the rantings of a digital Chicken Little. (...) And then there’s Silicon Valley, which I frequently write about. Surely the uber-geeks who run the world’s greatest innovation cluster could code something to smite the evildoers? Well (...), I admit I was terribly wrong. We are so screwed" (daqui)
VINTAGE (CCLVII)

Lloyd Cole & The Commotions live 
at The Marquee, London (1986)

Um óptimo exemplo de como um estudo pretensamente "científico" se desmorona, desde o início, infectado pelo preconceito mais pateticamente estereotipado: "Mellow (featuring romantic, relaxing, unaggressive, sad, slow, and quiet attributes; such as in the soft rock, R&B, and adult contemporary genres); Unpretentious (featuring uncomplicated, relaxing, unaggressive, soft, and acoustic attributes; such as in the country, folk, and singer/songwriter genres); Sophisticated (featuring inspiring, intelligent, complex, and dynamic attributes; such as in the classical, operatic, avant-garde, world beat, and traditional jazz genres); Intense (featuring distorted, loud, aggressive, and not relaxing, romantic, nor inspiring attributes; such as in the classic rock, punk, heavy metal, and power pop genres); and Contemporary (featuring percussive, electric, and not sad; such as in the rap, electronica, Latin, acid jazz, and Euro pop genres)... e onde me encaixo se gostar simultaneamente de Leonard Cohen, Stravinsky, Ornette Coleman, Sex Pistols, ABBA, Nusrat Fateh Ali Khan, Stockhausen, Julie London, Jimi Hendrix, Caetano Veloso, Beach Boys, Chet Baker, música barroca e do Renascimento, Amália, Glenn Branca?...
Porque o que é verdadeiramente medonho são "brancos a perseguirem brancos", coisa nunca antes vista em lado nenhum
 

23 July 2015

A ELEGÂNCIA, NÃO A PAIXÃO

  
No curso de Literatura Inglesa e Filosofia da Universidade de Glasgow de 1981, Lloyd Cole era o tipo que jogava golfe, ia para as aulas de fatinho completo e fumava John Player’s sem filtro. Já tinha andado por Direito, no University College de Londres, mas não lhe tinha parecido um nicho ecológico da academia particularmente à sua medida. Em Glasgow, mesmo tendo chegado ao 2º ano do curso, Cole, contudo, dificilmente conseguia fugir à sua natureza oculta de "music trainspotter”: “Eu fazia as palavras cruzadas do ‘New Musical Express’ mais depressa do que qualquer outro da minha turma e conhecia todos os discos que todas as bandas ‘cool’ tinham publicado entre 1970 e 1980. Era, realmente, uma tristeza, mas a minha vida era assim”, contava ele, ao “Independent”, em 2003. 

Não seria, por isso, verdadeiramente imprevisível que o moço que sonhava, em simultâneo, com os Joy Division, James Brown, Booker T, Isaac Hayes e os Chic, mais tarde ou mais cedo, afixasse num placard da associação de estudantes um anúncio em busca de um teclista que fosse fã dos Television e Talking Heads. Respondeu Blair Cowan, adepto dos Kraftwerk, Steely Dan e Vangelis. A seguir, chegou Neil Clark, guitarrista profundamente convicto de que, em White Music, dos XTC, Andy Partridge soava exactamente como uma tradução punk de McCoy Tyner, e, pouco depois, o baterista Stephen Irvine (falhara, por uma unha negra, a hipótese de substituir Topper Headon, nos Clash) e o baixista Lawrence Donegan (ainda fresco de ter sido corrido dos Bluebells). 



Entretanto, antes, apenas com o trio inicial, já tinha ocorrido o satori criativo quando, em poucas semanas, "Are You Ready to Be Heartbroken?", "Perfect Skin", "Charlotte Street" e "Forest Fire", emergiram definitivas e perfeitas e, assim, criaram Lloyd Cole & The Commotions, mais do que eles as criaram a elas. Cole, hoje, confessa como "Perfect Skin" nunca teria podido existir, se, por essa altura, ele não vivesse embriagado de Dylan e de "Subterranean Homesick Blues" e, há doís anos, por ocasião da morte de Lou Reed, afirmava que, não fora este, e ele, provavelmente, teria “acabado como professor de matemática”.

Porém, no caminho que conduziria ao fantástico álbum de estreia, Rattlesnakes (1984), havia muito mais do que vénias aos mestres: o jovem literato, adepto de Raymond Carver e Joan Didion, fora capaz de reinventar uma pop para gente que sabe divertir-se tanto do pescoço para baixo como para cima, segundo a orientação que, há cinco anos, aquando da publicação de Broken Record, ele próprio me desvendaria: “Os Commotions sempre se dedicaram a formas musicais americanas submetidas a uma estética europeia. Se reparar nas diferenças entre os R.E.M e os Commotions – que tocavam tipos de música semelhantes –, na música deles havia qualquer coisa que os aproximava mais dos Allman Brothers do que dos Rolling Stones. Os Commotions, apesar de tocarem pop, partilhavam com os Stones o facto de tocarem música americana com uma estética britânica: interessava-nos mais a elegância do que a paixão, interessava-nos a concisão”



Havia, no entanto, uma inesperada pedra no caminho, na qual os Commotions haveriam de tropeçar. Ia a banda em alto voo pelos tops, quando Donegan confessou que, ele em particular (e também o grupo, em geral), sofria(m) de um síndroma raro: ao contrário do cliché habitual que garante que um crítico musical não é senão um músico frustrado, eles eram, de facto, críticos musicais falhados. Daí que, ninguém como eles, tenha jorrado tanta injusta bílis sobre o seguinte Easy Pieces (1985) – e, mais venenosamente, sobre a dupla de produtores Langer & Wintanley – mas também, embora em menor grau, em relação ao derradeiro Mainstream (1987). Até quanto ao mais que perfeito Rattlesnakes, em 1993, Cole rabujava acerca do vibrato da sua voz que teria transformado o álbum “numa fotografia óptima mas que saiu ligeiramente desfocada, um pequeno detalhe que pode estragar tudo”



Quase inevitavelmente, em 1989, os Commotions chegariam ao fim. Lawrence Donegan viria mesmo a ser crítico musical no “NME” e “Record Mirror” (e, posteriormente, de golfe, no “Guardian”), Blair Cowan é engenheiro informático, Neil Clark compõe para cinema e televisão e Lloyd prossegue uma discretamente magnífica carreira a solo: "Tenho uma ridícula vida paralela em que sou um especialista de golfe. Num livro que li, explicavam que, para desenhar um campo de golfe, é indispensável ter instinto artístico e talento matemático. Como, na escola, era um prodígio em matemática, talvez devesse ir por aí. Recordo-me, porém, claramente da primeira vez que passeei por Londres e nenhuma cabeça se voltou. A sensação não foi boa. Podia ter ido comprar pornografia que o ‘Sun’ não se incomodaria a tentar fotografar-me. Mas, depois de 15 anos de rock, poderia eu fazer outra coisa? Quereria eu fazer outra coisa?” A história toda, contada em 5 CD, um DVD e um "booklet" de cerca de 50 páginas, com as proverbiais raridades, inéditos e lados B, pode ser recordada em Collected Recordings 1983-1989. Mas continuamos impreparados “to be heartbroken”.
LIMPAR O PÓ AOS ARQUIVOS (XXIII)

(com a indispensável colaboração do R & R)

(clicar na imagem para ampliar)

Ulver - "Poor Murdered Woman"

Depois não digam que 
não foram avisados (XIV)

Ó Olaf, não aborreças o Láparo Líder com a Tecnoforma que ele já explicou tudo isso muito bem!

"O elo comum é 
a construtora Odebrecht"
O governo inteiro é que era

22 July 2015

PRAZER 



Numa entrevista de 29 de Junho passado à revista espanhola “Sonograma”, interrogado acerca dos pontos de vista que defendeu em Retromania (2011), Simon Reynolds reconhece que, desde que escreveu o livro, houve, sem dúvida, maior atenção prestada à “música do futuro” apesar de, mesmo aí, continuar a existir um reflexo condicionado de “reciclagem de velhas ideias (dos anos 70 e 80) acerca do que é ‘futurista’”. E, tomando por exemplo Holly Herndon e o último álbum, Platform, sem deixar de dar a bênção ao conceito de “science-fiction politics” (“Pretendemos desenhar uma política nova. Todo o nosso trabalho explora o ‘extremismo visual’, o que significa que vivemos, espelhamos, digerimos e reflectimos sobre o tempo actual em vez de nos satisfazermos em ser meros figurantes ou, pior, curadores picuinhas de um falso design minimalista. Acreditamos que as ‘science-fiction politics’ necessitam de ‘science-fiction aesthetics’ e que ambas devem caminhar a par”, proclama Metahaven, o colectivo de designers holandeses responsável pelos vídeos de Platform), argumenta que não apenas padecerá do mal de “encarar o futuro como um género” mas também, apesar de “impressionante do ponto de vista composicional e do design sonoro, não estou certo de poder descrever como prazer a sensação que me provoca”



Não será necessário trazer à conversa as práticas BDSM para densificar um bocadinho o conceito de “prazer”. Basta evocar Metal Machine Music, de Lou Reed, a trilogia Tilt/The Drift/Bish Bosh, de Scott Walker, ou The Litanies Of Satan, de Diamanda Galás, e – rejeitando-os ou aceitando-os – facilmente se compreenderá que proporcionar prazer anda longe de ser missão única e obrigatória da música: não é pouca aquela que se ouve com admiração, espanto, curiosidade intelectual ou quase violação auditiva mais do que com prazer. E, já agora, Simon, por maiores reticências que lhe possamos colocar, há que saudar tudo o que contribua para que a música contemporânea não se assemelhe cada vez mais à Mrs Sheryl C. de que fala Oliver Sacks, em Musicophilia: uma infeliz senhora de 70 anos, praticamente surda, mas que sofria da alucinação auditiva de possuir um jukebox intracraniano que reproduzia interminavelmente as memórias musicais do seu passado.


Three Little PIGS & (the other) 


21 July 2015

"Really, it’s time to shut down the GOP: a deeply unserious party, hijacked by lunatics and Fox News, is driving us all into a ditch. 'News' without truth. A base that celebrates a clown. Tear the party down and start over - for the country's sake


Republicans are finally noticing that Donald Trump is a political liability. In the wake of Trump’s attack on John McCain, GOP candidates found the courage to condemn his revolting shtick — a little late, of course, but good for them. The problem, though, is that they don’t quite understand that Trump isn’t an anomaly; he’s the latest product of a party that long ago abandoned any pretense of seriousness. (...) The GOP, in many respects, is no longer a legitimate governing party. They’ve become a self-perpetuating hype machine, a jobs program for conservative political entrepreneurs. When running for office, Republicans are forced to say and do stupid things in order appease their disconnected base, whose worldview is shaped almost exclusively by conservative media. When elected, Republicans continue to say and do stupid things – and for the same reasons. This is what they’ve become. Trump didn’t emerge wondrously out of a whirlwind; he’s an authentic expression of the contemporary Republican Party" (daqui)
Esta edificante história (capturada aqui) fez-me recordar outra: e os Mirós, que é feito deles?

O perigosíssimo radical ameaça
 a lei e a ordem pondo em risco
 o "home of the brave"
VINTAGE (CCLV)

Steeleye Span - "Spotted Cow"
 

(+ da mesma "família")
A Estratégia da aranha (III)

... onde está o Wally?...

18 July 2015

De vez em quando, vá lá, 
nada de abusos!...

"A questão nunca foi conduzir bem ou mal as negociações, mas o facto de, por imposição da Alemanha, se ter sempre decidido que não havia acordo com os esquerdistas do Syriza. Os alemães e os seus acólitos tinham um programa de humilhação, com um acordo que foi afinal escrito pelo Syriza a branco, para eles o reescreverem a preto. O acordo com a Grécia, na realidade um diktat, só tem uma lógica: obrigar os gregos a engolir tudo o disseram que não desejavam. Não tem lógica económica, nem financeira, tem apenas uma lógica política de humilhação. Querias isto? Pois levas com um não-isto. Foi assim que foi feito o chamado acordo" (JPP)
Pronunciando-se acerca do significado do Pantelhão, o Portocoiso cede ao politeísmo ("o panteão é, como a sua etimologia prova, o templo de todos os deuses"), mas acaba por dizer algo com que, por uma vez, estou absolutamente de acordo: "Depois da diva Amália, o deus Eusébio deu entrada no panteão dos heróis da pátria. Para completar os três ‘efes’ do antigamente – fado, futebol e Fátima – já só faltam os três pastorinhos!"
Continuação das revisões da matéria dada (II)
Pois prometia... mas que Belzebu nos livre de uma segunda geração de "baladeiros" ao pé da qual até o Lello parece o Dylan!

15 July 2015

DESIRE


Aparentemente, a Desire Street, em New Orleans, foi assim chamada num gesto de homenagem ortograficamente equivocado a Désirée Clary, noiva de Joseph Bonaparte, a quem o irmão mais novo, Napoleão, sugeriu, descontraidamente, a troca com a irmã, Marie Julie, ficando ele com Désirée. Joseph e Julie viriam a ser reis de Nápoles, da Sicília e de Espanha mas Désirée, afinal preterida por Napoleão a favor de Joséphine de Beauharnais, acabaria por, após diversos "affaires" cortesãos, tornar-se rainha da Suécia e da Noruega, através do casamento com Jean Bernadotte, aliás, Karl Johan, aliás, Karl XIV da Suécia & Karl III da Noruega – antes disso, por um breve instante, nomeado governador da Louisiana. Assunto convenientemente francófono e promíscuo para a origem do nome de uma rua da cidade baptizada em honra do duque de Orléans, mas mais popular sob a designação de “the Big Easy”. Tennessee Williams, tirando partido da óbvia ambiguidade, já a celebrizara em A Streetcar Named Desire e, agora, é a vez de Rickie Lee Jones, com The Other Side Of Desire, o fazer também. 



Mas, neste caso, tomando como pretexto o facto de, desde 2013, ter passado, realmente, a viver em New Orleans – já aí escrevera o belíssimo Pirates (1981), sumário da história de "love gone wrong" com Tom Waits – , no bairro de Bywater (do outro lado de Desire Street, entre a linha de caminho de ferro e uma curva do Mississippi), o local onde, todos os anos, tem início o desfile de uma das "krewes" do Mardi Gras. A nota de intenções é clara: “Desejo ouvir, mais do que ser ouvida. Este é o meu momento de cantar e cantar-vos-ei tudo o que ouvi. Eis os meus sentimentos desenhados pelas imagens e sons de comboios e rios, o modo como conversam uns com os outros, noite fora (...), a luz através da minha velha janela, a minha determinação, o meu desespero”. E isso traduz-se numa belíssima sequência de canções apimentada pelo “accidental French” de "J’ai Connais Pas" ou "Valtz de Mon Père", pelos amáveis temperos "cajun" e "swamp-pop" (com Fats Domino a espreitar à esquina), devaneios de câmara, quase "lieder" involuntários, honky tonk de terra nas unhas. Se calhar, só um guia inútil: “I’ve been here so long, that I don’t know anymore, I get lost just walking out the door”
Mestre, Mestre, ó Mestre, veja lá bem as poucavergonhices que andam a espalhar sobre deusnossenhor!...



13 July 2015

"Quando falava nas reuniões, com argumentos económicos preparados, 'as pessoas ficavam a olhar para mim, como se não tivesse falado (…) Bem podia estar ali a cantar o hino da Suécia que ia receber a mesma resposta (…) Nem sequer havia mal-estar, era como se ninguém tivesse dito nada', revela Varoufakis. O que mais impressionou Varoufakis nas reuniões a que assistiu foi a 'completa ausência de qualquer escrúpulo democrático por parte dos supostos defensores da democracia'. O ex-ministro dá um exemplo: 'Ter várias figuras muito poderosas a olharem-me nos olhos e dizerem «Você até tem razão no que está a dizer, mas vamos esmagar-vos à mesma»’ (aqui + versão completa no original inglês)
Então, afinal, foi o Coelho Imperfeito, o pinguim ou o tipo 
que é fã dos Fleetwood Mac?
 

Arquivo Mural Sonoro | Michales Loukovikas

... e... “It is a typical European arrangement” (sete meses depois)

"Os banqueiros sustentam os governos como a corda sustenta os enforcados" (R. Bordalo Pinheiro)

+ o nojo (ou "eu é que sou o presidente da junta"): "Passos reclama os louros da medida que ajudou a desbloquear acordo na Grécia: 'Curiosamente, a solução que acabou por desbloquear [foi] uma ideia que eu próprio sugeri'"

12 July 2015

The Tweet Of God (X)

Dijsselbloem, Presidente 
do Eurogel no Cabelo


"Esta curiosa personalidade nasceu a 29 de Março de 1966 em Eindhoven. Isto é, no ano do 'Mundial do Eusébio' e na terra do histórico clube de futebol PSV. Está explicado um dos maiores mistérios do aspecto singular deste falador holandês: nasceu para comentador de futebol e por isso é tão parecido na fluência, nas gravatas, nos óculos, no suor na testa e no gel do cabelo com o 'dr. da bola' da SIC. Infelizmente para todos nós, o exemplar holandês de Rui Santos foi desviado para um desporto ainda mais dado a esquemas, fraudes e vaidades: a política europeia.

E, se bem o ameaçou, melhor o desfez: é o último nome de uma série de figuras notáveis pelas suas qualificações arrepiantes para governar, com toda a confiança, a Europa Unida. Temos Juncker, presidente da Comissão Europeia, que enquanto primeiro-ministro do Luxemburgo assinou acordos secretos de fuga fiscal com todas as multinacionais. Temos a senhora Lagarde, que em França perdoou as dívidas fiscais a Bernard Tapie, talvez o maior trânsfuga a norte dos Pirenéus. Temos o ministro Schäuble, cabecilha do mega-escândalo do financiamento ilegal da CDU alemã. Temos o espanhol Rajoy, que durante anos recebeu todos os meses milhares de euros numa caixa de sapatos. Temos o Coelho Imperfeito, em Portugal, que optava deliberadamente por não pagar a Segurança Social porque 'não sabia'. E agora temos um Jeroen Dijsselbloem (em linguagem fonética, lê-se Jeroen Dijsselbloem...) que inventou um mestrado em Economia e Negócios na Universidade de Cork na Irlanda quando afinal só lá andou uns meses a estudar a Indústria dos Lacticínios e não terminou nada, nem sequer há mestrado sobre esse assunto, ai que o leite já se entornou. 

Bem-vindo ao clube dos cumpridores das regras europeias, senhor Jeroen Dijsselbloem (ler Jeroen Dijsselbloem)! (...)" (texto completo aqui)

11 July 2015

"Não é de agora que os investigadores portugueses da Operação Marquês (...) procuram ligações com o Brasil. Por exemplo, a viagem de Lula da Silva a Lisboa, em 2013, para o lançamento do livro de Sócrates, foi paga pela Odebrecht. (...) No caso da Operação Marquês, os investigadores seguem a pista Odebrecht pela sua presença ao lado do grupo Lena numa série de consórcios vencedores de obras públicas durante os governos de José Sócrates (...). Mas os três conglomerados brasileiros que operam em Portugal (Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez) sempre estiveram na primeira linha de investigação entre as dez construtoras envolvidas na operação Lava Jato e todos eles tiveram os seus presidentes detidos" (Revista "E"/"Expresso", "Tropa de Elite", sobre a Operação Lava Jato)

"Penso, aliás como Churchill, que se o Diabo entende atacar Hitler, sou capaz de dizer umas palavras amáveis sobre o Inferno na Câmara dos Comuns. É este espírito que 'os estranhos companheiros de cama' têm tido a coragem de trazer para a vida pública portuguesa em que tudo desune e nada junta, mesmo quando o adversário usa de todas as armas. É por isso que, a seu tempo, ficarão como resistentes desta tempestade e não gente que foi à primeira chuvinha abrigar-se nas mansões menores do poder" (JPP)

09 July 2015

... e ainda hão-de faltar 
uns quantos robalos...
(ando a elevar a aposta para um outro peixão...) 

Armando Vara detido para interrogatório no caso José Sócrates (embora acreditar que, tanto tempo depois, ainda haja vestígios em papel ou na memória do computador seja uma enorme demonstração de fé...)
PEGADAS


Shirley Collins tinha 24 anos quando, em 1959, acompanhou, o folclorista norte-americano, Alan Lomax (desde 1950 exilado em Londres devido à caça às bruxas mccarthysta), numa expedição aos EUA para recolha e gravação de música tradicional – blues, bluegrass, folk –, através da Virginia, Arkansas, Kentucky, Alabama e Mississippi. A atmosfera familiar proletária, em Hastings, tinha-a educado no gosto pelo conhecimento e interpretação do reportório folk britânico mas seria após essa viagem e a verificação in loco de como as formas tradicionais se transformavam na travessia do Atlântico, que Shirley se lhe entregaria, por inteiro. Primeiro com o lendário guitarrista Davy Graham (Folk Roots, New Routes, 1964), depois, com a irmã, Dolly, e músicos do Early Music Consort, de David Munrow, em Anthems In Eden (1969) e Love, Death And The Lady (1970), e, em No Roses (1971), acompanhada por elementos dos Fairport Convention, Albion Band, Watersons e Young Tradition, tornar-se-ia figura central do "folk revival" e, a seguir, do felicíssimo matrimónio entre tradição, “música antiga” e rock eléctrico. 



Retirada desde 1978 quando começou a sofrer de disfonia, isso não impediu que se mantivesse activíssima enquanto "folk scholar" nem que tenha sido, regularmente, “redescoberta” por músicos de gerações posteriores. Shirley Inspired..., álbum triplo, comprova-o mais uma vez: destinado a financiar um documentário sobre Collins – The Ballad Of Shirley Collins –, reúne 45 músicos e bandas dedicados a reinterpretar parte substancial do seu reportório e, como seria inevitável em tamanho baú, nem tudo são pedras preciosas. Mas, na impossibilidade de referir todas, há que puxar devidamente o lustro aos contributos de Lee Ranaldo, Meg Baird, Sally Timms &The Mini Mekons, Rozi Plain e Bonnie Prince Billy, exemplos superiores da arte da desconfiguração, fazer vénia perante os melhores alunos da turma, Trembling Bells, Owl Service, Ulver, Johnny Flynn e Graham Coxon, e recordar as palavras de Shirley ao “Guardian”: “Cantar estas canções é-me tão essencial como caminhar pela paisagem do Sussex onde as pegadas dos nossos antepassados estão por todo o lado. São a história indiscutivelmente bela e poderosa de uma comunidade”.