09 July 2015

PEGADAS


Shirley Collins tinha 24 anos quando, em 1959, acompanhou, o folclorista norte-americano, Alan Lomax (desde 1950 exilado em Londres devido à caça às bruxas mccarthysta), numa expedição aos EUA para recolha e gravação de música tradicional – blues, bluegrass, folk –, através da Virginia, Arkansas, Kentucky, Alabama e Mississippi. A atmosfera familiar proletária, em Hastings, tinha-a educado no gosto pelo conhecimento e interpretação do reportório folk britânico mas seria após essa viagem e a verificação in loco de como as formas tradicionais se transformavam na travessia do Atlântico, que Shirley se lhe entregaria, por inteiro. Primeiro com o lendário guitarrista Davy Graham (Folk Roots, New Routes, 1964), depois, com a irmã, Dolly, e músicos do Early Music Consort, de David Munrow, em Anthems In Eden (1969) e Love, Death And The Lady (1970), e, em No Roses (1971), acompanhada por elementos dos Fairport Convention, Albion Band, Watersons e Young Tradition, tornar-se-ia figura central do "folk revival" e, a seguir, do felicíssimo matrimónio entre tradição, “música antiga” e rock eléctrico. 



Retirada desde 1978 quando começou a sofrer de disfonia, isso não impediu que se mantivesse activíssima enquanto "folk scholar" nem que tenha sido, regularmente, “redescoberta” por músicos de gerações posteriores. Shirley Inspired..., álbum triplo, comprova-o mais uma vez: destinado a financiar um documentário sobre Collins – The Ballad Of Shirley Collins –, reúne 45 músicos e bandas dedicados a reinterpretar parte substancial do seu reportório e, como seria inevitável em tamanho baú, nem tudo são pedras preciosas. Mas, na impossibilidade de referir todas, há que puxar devidamente o lustro aos contributos de Lee Ranaldo, Meg Baird, Sally Timms &The Mini Mekons, Rozi Plain e Bonnie Prince Billy, exemplos superiores da arte da desconfiguração, fazer vénia perante os melhores alunos da turma, Trembling Bells, Owl Service, Ulver, Johnny Flynn e Graham Coxon, e recordar as palavras de Shirley ao “Guardian”: “Cantar estas canções é-me tão essencial como caminhar pela paisagem do Sussex onde as pegadas dos nossos antepassados estão por todo o lado. São a história indiscutivelmente bela e poderosa de uma comunidade”.

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