"Quanto a 1640, ou seja, o ano em que se deu a revolta que pôs fim ao Portugal dos Filipes, verificou-se que essa ruptura política foi acima de tudo o resultado algo imprevisível de uma série de tensões e de lutas entre facções, e não propriamente um inevitável movimento 'nacional' alimentado por sentimentos patrióticos. Tornou-se evidente que a conotação patriótica de 1640 foi adicionada depois de a revolta ter acontecido, um trabalho levado a cabo pela propaganda do período pós-1640, tendo em vista legitimar a rebelião, justificar a ruptura política e mobilizar a população para a guerra contra a Monarquia Espanhola. E percebeu-se, finalmente, que foi essa mesma propaganda que criou e difundiu a ideia de que Portugal tinha sido explorado pela Monarquia Espanhola durante 60 anos. (...)
Hoje sabemos que a ruptura portuguesa, longe de ser inevitável, foi o fruto de uma conjugação bastante imprevisível de factores e de motivações, e sabemos também que o seu principal motor não foi um sentimento nacional supostamente acalentado pelas massas. Está provado que, a par do grupo que liderou a revolta, muitos eram os lusos que pretendiam que Portugal permanecesse na Monarquia Espanhola, exigindo, porém, que a autonomia do seu reino fosse mais respeitada. A par deles sabe-se que existia, e que continuou a existir, um grupo que era convictamente a favor de uma maior integração de Portugal na Monarquia Espanhola. Por último, sabemos também que a maioria das pessoas era bastante indiferente em relação ao que se estava a passar, e que a muitos não repugnava continuar na Monarquia Espanhola, bem pelo contrário. Bastava dar continuidade ao que tinham feito nos 60 anos anteriores". (aqui)
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