23 April 2010

YES, SHE CAN



Laura Marling - I Speak Because I Can

O título do álbum, reparem no título: I Speak Because I Can. Apenas dois anos antes, o primeiro (tinha Laura Marling dezoito recentíssimos anos) chamava-se Alas I Cannot Swim. Exactamente o mesmo período de tempo durante o qual Laura foi a musa para The First Days Of Spring, de Noah & The Whale (leia-se, para a alma, por ela devastada, de Charlie Fink, que, qual Petrarca, se viu obrigado a narrar, poética e musicalmente, a perda da amada), e para Sigh No More, dos Mumford & Sons (aliás, Marcus Mumford, o último fiel depositário dos seus afectos). Se virem bem, está tudo na forma do mesmo verbo, na passagem da negativa para a afirmativa: "I cannot" e "I can". Agora, ela diz que sim, fala "porque pode" e, de agora em diante, muito difícil será calar esta voz daquilo que – em queda da coisa "free-folk" –, é capaz de ser bem mais sensato, porque sim, porque podemos, chamar (é só mais um rótulo, este, medianamente aceitável), "nu-folk".



Pelo único motivo de que só poderá haver uma relação entre a matriz do que o primeiro Donovan (oiçam “Made By Maid” e “Ballad Of A Crystal Man”) e o Dylan fundador de "It’s Alright Ma" (escutem "Devil’s Spoke") têm a dizer sobre o assunto. Convoquem-se outros como Nick Drake, os espectros iluminadores de Sandy Denny, Joni Mitchel ou Richard Thompson e imaginem que outra matriz – autêntica, sem outro cálculo que não tenha sido o da digestão da necessária aprendizagem – poderia ter estado na origem de canções como as que cospem palavras tais que “no hope in the air, no hope in the water, not even for me, your last serving daughter” ou “Why fear death, be scared of living, hearts are small and forever thinning”. Com quase todos os Mumford & Sons na tripulação e alguns Noah & The Whale incluídos como troféus do saque. A jovem diva comanda as operações, decide quando ser Mumford-épica ou apenas acusticamente terra a terra e escolher a ocasião para enviar recados como “the weak need to be lead, and the tender I’ll carry to their bed, and it’s a pale and cold affair, I’ll be damned if I’ll be found there”. Amem-na muito.

(2010)

6 comments:

lia said...

: )

Um belo disco. Chegou a ouvir o da Laura Veirs, July Flame? Outro dos mais bonitos deste ano, pelo menos aos meus ouvidos.

Bom fim-de-semana!

João Lisboa said...

"Chegou a ouvir o da Laura Veirs, July Flame?"

Ouvi. Muito bom. Mas, no engarrafamento semanal dos discos sobre que escrever, foi ficando para trás. É injusto, eu sei.

Táxi Pluvioso said...

No she can not.

lia said...

Acontece (muito) : )

Quem também promete é a Nina Nastasia. A música nova (esteve para download naquele site, o Stereogum) chama-se «Holy Man» e prossegue naquela via quase balcânica, quase sinistra, que ela tanto gosta (e eu também!).

João Lisboa said...

Nina Nastasia?... óptimo, já tardava.

lia said...

Sim, cá está o link para ouvir a música nova :-)

http://stereogum.com/324451/nina-nastasia-youre-a-holy-man/mp3s/

Claro que, nos dias que correm, quem manda cá em casa é mesmo o High Violet... (Em modo cromo, o lado B do single é diabólico!).