04 November 2009

UM DALAI LAMA A CADA ESQUINA



Não seremos ainda suficientes para desenhar um sorriso no rosto de cada contabilista, para oferecer um ramo de jasmim a cada talibã, para transformar cada surtida à secção de congelados do Pingo Doce num musical. Mas, nós, os escolhidos do Clube de Fãs do Pensamento Filosófico de Laurinda Alves, sabemos ser já os bastantes para, nas pequeninas coisas que realmente contam - ajeitar o lenço de um escuteiro, alinhar os chacras de um pedinte romeno, adoptar uma iguana orfã -, continuarmos a transformar o mundo num lugar onde, não tardará muito, Madre Amy Winehouse será abadessa das Carmelitas descalças e a OPEP cobrará pelo barril de crude aquilo-que-o-seu-país-generosamente-quiser-dar. É, porém, com transbordante alegria que a nossa bolsa marsupial dos afectos acolhe, todos os dias, novos residentes. Saudamos, pois, carinhosamente, Pedro Mexia, recentíssimo devoto-de-Laurinda, que, nas páginas da revista "Ler", lhe dedica o maravilhoso "Felicidade Alves".

Numa pré-publicação em rigoroso exclusivo, aqui ficam alguns excertos:

" (...) Coisas da Vida (Oficina do Livro) é a mais recente compilação de textos de Laurinda, ou seja, mais uma overdose de felicidade. O nosso prefaciador vai direito ao assunto: Laurinda é uma 'bordadora de palavras tecidas de sentimento'. É um caveat honesto: quem não apreciar 'palavras tecidas de sentimento' deve largar imediatamente o volume na livraria, e ir a correr para a aula de Pilates. Se há quem veja o copo sempre meio-cheio, Laurinda vê sempre o copo a transbordar, com água pelos bordos, tão cheio que é preciso dar o proverbial beijinho para que não se derrame. E ela dá. Não conheço outra pessoa que conviva com homens que operam guindastes e que frequente taxistas, como ela conta nestas croniquetas, e que não encontre uma imprecação, uma bílis que seja, uma tirada racista ou um insulto misógino. Quando Laurinda anda de táxi, os taxistas não querem um Salazar a cada esquina mas um Dalai Lama a cada esquina. (...) Desde o tempo da revista 'Xis', uma publicação que fazia a 'Vida Soviética' parecer uma bíblia do pessimismo, que Laurinda Alves é a pessoa mais feliz de Portugal, e insiste em comunicar isso a todos. Ela é como aquelas enfermeiras que acordam um doente para perguntar se tomou o comprimido para dormir. Nos tempos do catolicismo progressista, havia um famoso sacerdote contestatário chamado Padre Felicidade Alves. Mas só agora é que chegou verdadeiramente alguém que merece esse nobre título de Felicidade Alves".

(2009)

25 comments:

Anonymous said...

Creio que esta merda já cheira mal ó Lisboa...No fim de contas,e apesar de parecer o contrário, o que resulta é que tu gostas da Laurinda. Olhando para ambos e desconhecendo esta ode que tu fazes, qualquer pessoa mais 'neutra' diria que foram feitos um para o outro.Não iludas a química...Cavaleiro das Trevas

João Lisboa said...

"apesar de parecer o contrário, o que resulta é que tu gostas da Laurinda"

Mas onde é que isso poderá ter estado, alguma vez, em dúvida?

"Gostar" está, até, a anos-luz da verdade: venerar, that's more like it. Cheguei até já a considerar a possibilidade de mudar o nome do blog para O Altar de Laurinda.

Mas que raio de ideia que lhe passou pela cabeça...

Anonymous said...

A ideia não passou pela cabeça. Passou por outro lado. Tem piada 1, 3, 7 vá lá 10 ou mesmo 12 vezes. Mas, convenhamos que isto já ultrapassa a marca do admissível e do senso. Que raio.. não haverá outras personagens a merecer melhor o nosso assédio na cena cultural/politica portuguesa ? Quanto mais bates... mais gostas dela. Não topas o mecanismo ? Não o sentes ? Cavaleiro das Trevas

Anonymous said...

Há aqui muito amor encoberto...

João Lisboa said...

"não haverá outras personagens a merecer melhor o nosso assédio na cena cultural/politica portuguesa ?"

Então não há?... Estão todas aqui:

http://lishbuna.blogspot.com/search/label/pensamento%20filos%C3%B3fico%20portugu%C3%AAs

e aqui:

http://lishbuna.blogspot.com/search/label/ludop%C3%A9dio

e aqui:

http://lishbuna.blogspot.com/search/label/pol%C3%ADtica

... e em vários outros labels. É só procurar.

Mas a palavra "assédio", no caso da filósofa Laurinda (e, em boa verdade, em quase todos os outros, também), é absolutamente injustificada. Já lhe expliquei: trata-se de admiração, veneração, puríssimo assombro.

João Lisboa said...

"Há aqui muito amor encoberto..."

Outra vez?... Claro que sim, mas amor espiritual, genuflexão intelectual, comunhão de mentes irmãs.

Anonymous said...

E muito amor....Uma paixão assolapada transmutada em ódio.Cavaleiro das Trevas

João Lisboa said...

"Uma paixão assolapada transmutada em ódio"

Só por aversão visceral à censura não editei este comentário: a palavra "ó**o", num post sobre Laurinda é como a profanação de um santuário.

Anonymous said...

Caro João Lisboa : a gente já percebeu que após dezenas de postagens com a Laurindinha...o que sobra de um ângulo porventura mais psicanalítico é uma vontade indómita de lhe saltar para cima. Como isso não vai sendo possível...tenta-se outra abordagem, mais consentânea com o estado de aparente indiferença da alma sitiada. Cavaleiro das Trevas

João Lisboa said...

Caríssimo Cavaleiro, you're no fun anymore.

Anonymous said...

Está bem. Por favor não volte à carga.Se o fizer tem-me à pena. Cavaleiro das Trevas

nick name alvessssssss said...

Jorge Gabriel.

João Lisboa said...

"Se o fizer tem-me à pena"

Já ouviu falar em moderação de comentários?

Anonymous said...
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Anonymous said...
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Anonymous said...
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Anonymous said...
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Paulo para todas as obras said...

:)

gostei da censura!!

mais pensamento filosófico, sff

Anonymous said...

haha
«frequentadora de taxistas» soa mesmo mal.

Enfim, diria que o texto está é carregadinho de sarcasmo.

João Lisboa said...

"diria que o texto está é carregadinho de sarcasmo"

Fiquei com a ideia de que o Pedro Mexia o escreveu, swiftianamente, de uma forma completamente séria. Mas só ele o poderá dizer.

J Grande said...

O texto do Mexia está muito bom. Nunca vi sarcasmo tão bem camuflado (foda-se aquilo tresanda a sarcasmo! Mas por ficamos sempre com uma ponta de dúvida).

Já agora, concordo com o Anonymous. É que a coisa já perdeu o efeito, já está fora do prazo. E há para aí tantas inanidades a merecerem a tua atenção.

João Lisboa said...

"É que a coisa já perdeu o efeito, já está fora do prazo. E há para aí tantas inanidades a merecerem a tua atenção"

Mas o que mais será necessário dizer para que se compreenda, de uma vez por todas, que, pela filósofa Laurinda, não nutro senão admiração, deslumbramento e assombro? E isso nunca fica fora de prazo.

Lola said...

Estou contigo. Mais Laurinda.
Ela é um bálsamo no meio desses seres que necessitam sempre de novidades. Quem mais poderia encontrar tanto frescor filosófico nos aspectos mais rotineiros da vida? E o sorriso?

João Lisboa said...

"Quem mais poderia encontrar tanto frescor filosófico nos aspectos mais rotineiros da vida? E o sorriso?"

Exactamente. Nunca disse outra coisa.

nassar said...

Mais Laurinda, por favor!Uma vez conheci uma espécie de Laurinda. A coisa passou-se mais ou menos assim:

http://www.youtube.com/watch?v=3BJ9VouFBK0