DEFESA PAGÃ DO URSO POR RAZÕES DE CALENDÁRIO
- COMO, AGORA MESMO, SE COMPREENDERÁ - INTEIRAMENTE JUSTIFICADAS (II)
- COMO, AGORA MESMO, SE COMPREENDERÁ - INTEIRAMENTE JUSTIFICADAS (II)
"Desde os primeiros séculos do cristianismo, diversos autores tinham classificado o urso entre os animais perniciosos e, retomando uma frase enigmática de Plínio, tinham visto nele uma criatura particularmente maligna. (...) Mas foi na viragem do século IV para o século V que foi dado o passo decisivo, e, como muitas vezes aconteceu, foi Santo Agostinho quem pronunciou a sentença decisiva, aquela em torno da qual se iria construir durante vários séculos toda a simbologia cristã acerca deste animal: "URSUS EST DIABOLUS!" (...) Pôr em cena homens de Deus mais fortes que os animais selvagens (...) e capazes de se fazer obedecer por eles ou de empregar de modo útil a sua força ou a sua astúcia natural, terá certamente contribuído para enfraquecer a devoção que era prestada a este animal por populações recente e superficialmente convertidas à religião cristã.
Em relação ao urso, porém, isso não era, de todo, suficiente e a igreja da Alta Idade Média teve de ir mais longe nas suas estratégias hagiográficas para eliminar os últimos santuários dos antigos cultos que lhe eram dedicados. Para o conseguir, desde o início, certos prelados tiveram a ideia de utilizar o calendário: nos diferentes momentos do ano em que se desenrolavam cerimónias e rituais pagãos relacionados com a admiração votada a esta fera invencível, foram planeadas festas dedicadas a grandes santos ou a santos mais locais e regionais mas tendo todos, de uma ou de outra forma, relação com o urso.
A este respeito, é exemplar o caso de S. MARTINHO, cuja festa principal, inicialmente em data flutuante, foi definitivamente fixada a 11 de Novembro, suposto dia da morte do santo arcebispo de Tours, em 397. Esta data não foi escolhida ao acaso. Com efeito, nesse dia, numa grande parte da Europa temperada, os camponeses festejavam o momento em que o urso sentia os primeiros frios do Inverno, regressava à toca e começava o seu longo período de hibernação. A data era, por outro lado, no mundo rural, a altura em que as actividades exteriores começavam progressivamente a cessar e em que cada camponês recolhia o gado e armazenava os cereais, antes de ele próprio se abrigar com a família. O comportamento do urso que partia para a hibernação, simbolizava este momento forte do calendário: a passagem do exterior para o interior, a passagem da vida para a morte. Essa a razão porque numerosos ritos e cerimónias associavam o urso às diferentes festas do Outono. Ritos pagãos, certamente ruidosos, violentos, transgressivos, por vezes perigosos e sexuais, feitos de danças, disfarces e mascaradas que só podiam aterrorizar os clérigos e os prelados". (L'Ours/Histoire d'un Roi Déchu - Michel Pastoureau, La Librairie du XXIème Siècle/Seuil, 2007)
Em relação ao urso, porém, isso não era, de todo, suficiente e a igreja da Alta Idade Média teve de ir mais longe nas suas estratégias hagiográficas para eliminar os últimos santuários dos antigos cultos que lhe eram dedicados. Para o conseguir, desde o início, certos prelados tiveram a ideia de utilizar o calendário: nos diferentes momentos do ano em que se desenrolavam cerimónias e rituais pagãos relacionados com a admiração votada a esta fera invencível, foram planeadas festas dedicadas a grandes santos ou a santos mais locais e regionais mas tendo todos, de uma ou de outra forma, relação com o urso.
A este respeito, é exemplar o caso de S. MARTINHO, cuja festa principal, inicialmente em data flutuante, foi definitivamente fixada a 11 de Novembro, suposto dia da morte do santo arcebispo de Tours, em 397. Esta data não foi escolhida ao acaso. Com efeito, nesse dia, numa grande parte da Europa temperada, os camponeses festejavam o momento em que o urso sentia os primeiros frios do Inverno, regressava à toca e começava o seu longo período de hibernação. A data era, por outro lado, no mundo rural, a altura em que as actividades exteriores começavam progressivamente a cessar e em que cada camponês recolhia o gado e armazenava os cereais, antes de ele próprio se abrigar com a família. O comportamento do urso que partia para a hibernação, simbolizava este momento forte do calendário: a passagem do exterior para o interior, a passagem da vida para a morte. Essa a razão porque numerosos ritos e cerimónias associavam o urso às diferentes festas do Outono. Ritos pagãos, certamente ruidosos, violentos, transgressivos, por vezes perigosos e sexuais, feitos de danças, disfarces e mascaradas que só podiam aterrorizar os clérigos e os prelados". (L'Ours/Histoire d'un Roi Déchu - Michel Pastoureau, La Librairie du XXIème Siècle/Seuil, 2007)
(2007)
1 comment:
Marketing religioso. Afinal o S. Martinho é uma espécie de product placement anti-plantígrado. :D
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