UMA PRODIGIOSA SUCESSÃO DE ACONTECIMENTOS CONDUZIU-ME A RESSUSCITAR UMA MÃO-CHEIA DE "OFF-THE RECORDS", DE NOVO (plus ça change...), DESGRAÇADAMENTE PERTINENTES (IV)
A NOVA PEDAGOGIA
Há cerca de dois anos, por altura da "grande final" da "Operação Triunfo", e a propósito de ter recusado o convite para um dos painéis do júri da pseudo-escola, escrevi aqui neste espaço: "Nenhuma escola deverá enganar os seus alunos, fazendo crer que lhes está a rasgar horizontes de futuro radiosos. E a "escola" da "OT", ao pretender (não) formar basicamente artistas de variedades para o circuito dos casinos — o que, como se sabe, em Portugal, praticamente não existe — está a iludi-los. (...) Quando, daqui a um ano, já ninguém se lembrar dos nomes da maioria (ou de todos) os concorrentes da "OT" a quem, a cada domingo, é garantida uma carreira brilhante, em que lugar irá esta "escola" aparecer nos "rankings" anuais de "sucesso escolar" do Ministério da Educação? Porque até é uma escola pública paga com o dinheiro dos contribuintes, não é?". Hoje, e após uma segunda edição da "OT", quem sabe onde param todos aqueles a quem, diariamente, se convencia a "acreditar no sonho"? Um ou dois até sei: os seus nomes podem ser vistos em cartazes de estradas de província a abrilhantar arraiais de aldeia e festarolas de coreto.
O Presidente do Conselho Pedagógico
E, agora, acerca de outro e de uma infeliz camarada de infortúnio dessa maratona de humilhação e achincalhamento da SIC de nome "Ídolos", ficámos a conhecer o horizonte brilhante que lhes é reservado: representar a RTP na suprema irrelevância musical do Festival da Eurovisão. Fatalmente, a coisa tem intuitos de "promoção da pátria". Segundo Nuno Santos, director de programação da televisão do Estado (in "Público" de 18 de Abril), "a canção 'Amar' pretende rasgar fronteiras e encher de orgulho os portugueses, muito especialmente os que vivem na Europa" (edit: não rasgou, não encheu, mas isso já se sabia). E, naquele atávico reflexo nacional de deixar sempre fugir o pé para a chinela mais fedorenta, explicou ainda: "A canção também é, de certa forma, o padrão-Mourinho, bem parecida e bem produzida". Tinha de ser, Portugal não entenderia sem a inevitável metáfora da bola. O bom gestor, o excelente executivo, o "homem de sucesso", a canção perfeita têm de aprender com a "cultura" do futebol. Com a instrutiva leitura dos autos do "Apito Dourado". Com os sórdidos métodos do "bas fond" e dos iletrados das "quatro linhas". Já tínhamos a escola-modelo da "OT". Foi-nos revelado agora o paradigma pedagógico. (2005)
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