04 July 2017

merda no beco dos Dauerling (III)
COM HISTÓRIA DENTRO 


Em Vidas: Biografias, Perfis e Encontros, Maria Filomena Mónica conta como Cavaco Silva, tendo escolhido para o seu doutoramento, em 1971, a universidade de York (“uma instituição que, por ser recente, não tinha prestígio, mas que lhe pareceu adequada aos seus fins”), os dois anos e meio que ali viveu foram, para ele, pouco marcantes: “devido ao seu feitio retraído, os acontecimentos políticos e sociais” ter-lhe-ão irremediavelmente escapado. Nomeadamente, não terá reparado na “dureza do conflito entre os mineiros e o governo” – que acabaria por derrubar o gabinete conservador de Ted Heath –, preferindo recordar “o estoicismo com que a sua família encarou a falta de aquecimento durante o gélido Inverno de 1973”. Entre várias outras coisas, sgnifica isto que o ex-presidente dificilmente compreenderia um álbum como Every Valley, concebido como “uma história do declínio industrial, centrada nas minas de carvão do Reino Unido e do sul de Gales. (...) Uma história de que resultaram comunidades abandonadas e desprezadas e que conduziu ao ressurgimento de um tipo de políticas fundamentalmente malignas, cínicas e calculistas”

(words)

Quem o assina e assim o descreve são os Public Service Broadcasting, trio constituído por J. Willgoose, Esq. (guitarra e electrónicas), Wrigglesworth (bateria e teclados) e JF Abraham (baixo e fliscorne) que, nos dois álbuns anteriores – Inform - Educate – Entertain (2012) e The Race for Space (2015) – aperfeiçoou um modus operandi muito próprio de criar música com histórias (e História) dentro: construir – chamemos-lhes ainda assim – canções em torno de "samples" de documentários do British Film Institute, de arquivos de rádio e de programas informativos e educacionais, instalando memórias do passado numa rampa de lançamento para o futuro. Every Valley é, até, agora, o ponto culminante desse método: chamando a participar James Dean Bradfield (Manic Street Preachers), Traceyanne Campbell (Camera Obscura), as Haiku Salut, antigos mineiros e corais masculinos galeses, o fio da história que se desenrola sobre um tapete sonoro ora vibrantemente orquestral, ora kraftwerkiano, ora post-rock, obriga-nos a não ignorar “o orgulho, a raiva, a força e a derradeira derrota (...) do país de Gales das minas de carvão, do seu declínio e reestruturação. Ou, se não alinharem com o modelo thatcheriano, da sua destruição”.

03 July 2017

merda no beco dos Dauerling (II)
Public Service Broadcasting - "If War Should Come"

Ligeti & Penderecki

György Ligeti - Requiem e Atmosphères (de 2001: A Space Odyssey, Stanley Kubrik, 1968)
 
Krzysztof Penderecki - Threnody to the Victims of Hiroshima (da 3ª temporada de Twin Peaks)
"Trump é muito mais 'moderno' que os seus adversários. (...) Ele percebeu como ninguém, no exercício do poder político, a enorme ligação entre o populismo e as redes sociais, e como estas podem ser usadas para criar um ecossistema político e social fechado, agressivo, militante, excitado, identitário, que não comunica com o exterior de forma racional, pelo que se torna imune ao saber (a 'nova ignorância'), à verdade (daí as 'fake news', que Trump tenta todos os dias inflectir para os 'outros') e à mentira, que ele usa sem qualquer hesitação. (...) Trump fará tudo o que lhe permitirem que ele faça, sem qualquer outra consideração que não seja a sua preservação pessoal. Como já não é possível distinguir as duas coisas, a sua queda vai produzir muitos estilhaços porque ele fará tudo para que pareça ou seja um cataclismo. Trump é um tipo perigoso, muito perigoso" (JPP)
St. Vincent - "New York"

30 June 2017

"O mundo do futebol português parece um campo onde tudo é possível e tudo pode ser perdoado. Na minha opinião, não há assim tantos países onde o poder do futebol seja uma forma de poder político. (...) O que me apercebi é que a justiça portuguesa tem uns 'timings' muito estranhos de acção. Às vezes é rápida, outras vezes muito lenta. Em geral, penso que a economia do futebol português é uma caixa negra que merece ser investigada. (...) Em Portugal a atitude política é nunca querer atingir com dureza o mundo do futebol" + "A economia global do século XXI é uma economia de entretenimento. O futebol é o principal pilar dessa economia de entretenimento, quem controla o futebol controla a cultura global e, de certa forma, a produção de pensamento global" (aqui e aqui)

Querem ver que, por pouco, quase (não) entrevistava o Banksy?  
(ou, então, não...)
Public Service Broadcasting - "Progress"

A espécie humana não é flor que se cheire mas este troglodita é uma vergonha até para uma espécie humana que não é flor que se cheire