MEA MAXIMA CULPA (I))
(publicado no nº 11 da "Granta")
Havia todas as desculpas, justificações e atenuantes. Que, na verdade, até já vinham de há muito. É perfeitamente possível identificar e datar o primeiro grande sobressalto: os 40 000 caracteres da crítica a Self Portrait — o álbum maldito de Bob Dylan —, no número de 23 de Julho de 1970 da “Rolling Stone”, que Greil Marcus iniciava com um perplexo “What is this shit?...” E ia violentamente mais longe pondo em causa a valia da obra anterior de Bob Dylan (“Em 65 e 66, seríamos assim tão impressionáveis? Não teremos sobrevalorizado algo que, afinal, não era melhor do que isto? Aqueles discos tão intensos terão sido apenas acidentais?”), mas, ao mesmo tempo, ensaiando um diagnóstico: “Há uma curiosa tendência para o auto-apagamento. Dylan retira-se de uma posição na qual lhe é exigido que exerça o poder. Quase como o duque de Windsor abdicando do trono”.
Não falhava por muito o alvo. Verdade ou mentira, como viria a admitir 34 anos depois em Chronicles: Volume One, se decidira atribuir a Self Portrait o estatuto de caixote do lixo, o intuito era o de repelir os enxames de fãs que o assediavam, exigindo “que saísse à rua e os conduzisse sabe-se lá onde, e deixasse de me esquivar aos meus deveres de porta-voz de uma geração. (...) Eu apenas cantara canções directas que falavam de realidades novas e poderosas. Tinha muito pouco em comum e sabia ainda menos de uma geração de que era o suposto porta-voz. (...) Sentia-me como um pedaço de carne atirado aos cães. (...) Escreviam-se histórias acerca de eu andar em busca de mim, numa demanda interior atormentada. Tudo isso me parecia óptimo. Gravei um álbum duplo [Self Portrait] para o qual atirei tudo o que colasse e não colasse à parede. (...) Convencera-me de que, quando a crítica demolisse a minha obra, o mesmo aconteceria comigo e o público esquecer-me-ia”. (segue para aqui)
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