LE ROI SE MEURT
Ouvir o anúncio da minha morte
foi como ouvir uma língua estranha:
deram-me um esquisito passaporte,
sem dizerem se é pra vale ou montanha.
Pouco me vale reinar em qualquer Espanha,
a morte quer é haver-se comigo.
Porquê mostrar, a mim, sua gadanha,
achará que sou, pra ela, um perigo?
O que perturba é ela conhecer-me,
parecer saber, de há muito, quem sou,
andar atrás de mim a envolver-me!
Mas agora o momento chegou:
ser rei já muito pouco adianta,
quando a morte me aperta a garganta.
Eugénio Lisboa
NOTA: LE ROI SE MEURT é o título de uma notabilíssima peça
de teatro, de Eugène Ionesco, que vi, encenada em Paris. Como
o título me convinha, roubei-lho. É assim que se faz.
13 comments:
Tinha acabado de ler. Um abraço bem apertado, João.
Obrigado.
Sem palavras, agora o vazio dos dias
Que notícia tão triste. Eu dizia que ele era o mais jovem de quantos escreviam no espaço público, sempre tão acutilante, truculento, brincalhão.
Este ano está a ser devastador. Ainda há dias morreu a mãe de uma amiga e semanas antes, a mãe de um outro. Foi também o ano da morte da minha mãe. Dizia-me no outro dia uma amiga minha, médica e amiga também da minha mãe, que há que ver o outro lado: viveram vidas longas, preenchidas, felizes. Quando eu me queixava que a minha mãe parecia bem até tão pouco antes de morrer, ela respondeu, 'E ainda bem, não é? Antes isso do que ter sofrido durante muito tempo.'
E às vezes são estes comentários que nos fazem ver as coisas por um outro prismas e aceitar mais facilmente o que nos é sempre doloroso.
Fiquei muito triste pela partida do seu pai. Mas dele ficam milhares de palavras e de sorrisos que todos vamos poder ler e reler como se ele ainda por cá andasse a partir a loiça toda.
Um abraço, João
Obrigado. Vamos continuar a partir a loiça toda.
Sempre o vi como o seu alter-ego. Tenho pois a felicidade de achar que ainda cá está. Sem ter o prazer de conhecer nenhum de Vós pessoalmente, uma tremenda beleza o que percepciono desta relação Pai/Filho. Um forte abraço, t
Obrigado.
E agora, João, quem vai escrever poemas aos gatos?
Vou sentir a falta de seu pai, que conhecia há muitos anos do JL e mais recentemente do blog, sem saber que era seu pai.
Um abraço para si, outro para o Bowie (que espero esteja bem), outro para a gatinha que perdeu o maior amigo.
Maria
Obrigado. O Bowie também já não anda por cá...
Os meus sinceros pêsames.
O seu pai esteve sempre do lado certo! Isso é só exclusivo de alguns...
Lamento muito.
Andava há uns tempos para lhe perguntar por ele...
Um abraço, João.
PC
https://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/vamos-continuar-a-le-lo-16876200
Obrigado, Pedro.
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