07 February 2024

 
(sequência daqui) Do outro lado do intercâmbio, Pedro traduz o modo como esse condicionamento aconteceu: "A partir do momento em que recebi aquele convite, comecei a pensar no que faria sentido acontecer com aquelas três peças - o Carlos, o Sérgio, o Luis - e comecei a escrever canções com estes ingredientes. Quando estou a compor gosto de ter todas as peças em cima da mesa. O que acabou por desbloquear isto tudo foi a Mitó com aquela voz, aquela personalidade. O lugar onde a voz dela se situa não pode ser uma qualquer canção. Houve canções que escrevi antes de existir a voz da Mitó que pura e simplesmente não resultaram com a voz dela". E Luís Martins alarga a perspectiva: "De repente, em canções que já estavam muito preenchidas, tivemos de encontrar espaço excluindo algumas coisas. Foi uma forma completamente diferente de trabalhar". Da qual resultou uma dúzia de canções impuríssimamente híbridas tanto do ponto de vista musical como do painel gloriosamente mestiço cuja imagem se reflecte no espelho: "Separando o africano do cigano/ Do chinês, do indiano, ucraniano,/ muçulmano, do romeno ou tirolês/ Como vês/ Sobra muito, muito pouco português, ó pá/ Separando o cristão do taoista,/ do judeu do islamita, do ateu ou do budista,/ do baptista mirandês/ Como vês/ Sobra muito, muito pouco português, ó pá/ (...) Ora tenta separar o teu genoma/ Tu tеns tanto de Lisboa como de Rabat ou Doha/ Tudo soma no que és/ Como vês/ Sobra muito, muito pouco português, ó pá". Ou - tal como o anterior "Corridinho Português", também com eloquentíssimo vídeo de Joana Brandão -, a figura de Nosferatu do mui conhecido "Político Antropófago" que “Crava a unha, carne, pele e osso/ Ferra o dente sedente no pescoço/ O político antropófago/ Na tv, o banquete no palanque/ Na régie, querem sangue, pedem sangue/ E em casa num sarcófago”. (segue para aqui)

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