10 October 2023

ESCULTURA DE ESCOMBROS 


Era o início de Outubro de 1990 e, junto à janela do primeiro andar de um pequeno café da Rue du Bac, em Paris, com os pés descontraidamente pousados sobre a cadeira da frente, Tom Waits discursava acerca do motivo que o conduzira à capital francesa: a apresentação, no Théâtre du Châtelet, da ópera The Black Rider que escrevera com William Burroughs e Robert Wilson. De súbito, lá em baixo, na rua, a figura de Kathleen Brennan - co-compositora, companheira e força da ordem no mundo de Waits -, saída do hotel em frente, surge, gesticulando para ele. Como quem faz apenas uma pausa para logo a seguir continuar o que ficara suspenso, em modo de ditador benévolo, Tom Waits diz-me: "Faça-me a próxima pergunta, deixe o gravador aqui e, por favor, vá até à rua para saber o que ela quer". Qual pombo correio, cumpri a missão em 5 minutos. Mais tarde, verificaria que ele fora também fiel ao compromisso, falando ininterruptamente durante todo o tempo. Apenas mais uma prova de que, pelo menos tão fascinante como a sua obra musical, Tom Waits em discurso directo é invariavelmente muito melhor do que qualquer tentativa de o caracterizar (daqui; segue para aqui)


"November" (The Black Rider, na íntegra aqui)

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