11 April 2023

DEIXAR SUBENTENDIDO
 

Foi no Outono de 1998. Elvis Costello preparava-se para publicar Painted From Memory – o álbum que gravara, a quatro mãos, com Burt Bacharach – e, com o intuito de anunciar a sua ascensão ao céu dos escritores de canções, convocara as cortes mediáticas para algures, em Londres. A cerimónia seria, previsivelmente, morosa: conferência de imprensa ritual, seguida da interminável espera de uma estação de televisão que tardava em estabelecer o contacto. Mas, no final, sem nada previamente combinado, acerquei-me dele e, como quem conversa enquanto partilha o elevador, lancei-lhe uma pergunta. Depois, outra. E outra. Acabaria por ser uma bela conversa informal na qual Elvis confessaria o essencial: “Com o Burt, aprendi a deixar subentendido o sentido de uma canção e a não ter a obsessão de dizer logo tudo nos primeiros oito compassos. Tive a oportunidade de deixar os argumentos das canções desenvolverem-se gradualmente, dando origem a um crescendo muito mais intenso do que alguma vez conseguira com uma banda. Ele contou-me que, uma vez, a Marlene Dietrich lhe dissera 'Não ofereças o teu sorriso de mão beijada'. Uma forma de dizer que não é bom revelar todos os segredos de uma canção de uma só vez”. (daqui; segue psra aqui)

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