07 March 2022

"Birds"
 
(sequência daqui) Laurie Anderson avisa-nos: “Durante a pandemia, fiquei cada vez mais consciente de que nada permanece igual por mais do que uns segundos. Se desejarem que permaneça, boa sorte. Não vai acontecer”. Sugere-nos filtros diferentes através dos quais observar o mundo: “Experimentemos usar os sentidos errados: cheirar com os ouvidos. Podemos ver o ritmo e escutar com os olhos”. Prega-nos sustos: “Nos meus piores pesadelos que podem ser muito gráficos, a iCloud desfaz-se e toda a informação precipita-se sobre nós. Nas noites mais difíceis vejo Trump, os filhos e todos os seus amigos enquanto Noé e a família prestes a embarcar na nova Arca, um imenso navio de cruzeiros chamado Princess Ivanka. No último minuto, aparece Mark Zuckerberg na sua prancha de surf eléctrica, mesmo a tempo de iniciar o novo emprego dirigindo, organizando e personalizando todas as experiências no caminho para nenhures”. Dá-nos os mais preciosos conselhos: “Deixem-me assegurar-vos que a razão por que todos aqui estamos não é para sofrer e trabalhar. A verdadeira razão é divertirmo-nos muito, muito, muito!” E, depois, conta-nos como isso pode suceder: “Lembro-me de uma noite durante um concerto ao ar livre, em Portugal, no topo de uma colina. A meio de uma canção apercebi-me de uma melodia nova e pensei “Uau, o Peter Scherer é um músico incrível, sempre a inventar pormenores maravilhosos... Olhei para ele mas o movimento das mãos não coincidia com o ritmo da melodia que eu ouvia, era completamente diferente. A canção terminou, o Peter parou de tocar mas aquela melodia lindíssima continuava. Percebi que vinha de uma árvore, à esquerda do palco, mesmo ao pé de onde tinham colocado umas luzes coloridas. Era um mocho, um mocho pequenino, e nós tínhamos estado a cantar um dueto. Pensei: podia morrer agora mesmo, a vida nunca poderá ser melhor do que isto!...”

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