Absolutamente maravilhoso
(...) "um fenómeno nascido do acaso (...) uma situação análoga à da surpresa perante a vitória de Donald Trump contra Hillary Clinton (...) um homérico olhar de espanto e incredulidade (...) esperou a cada segundo da tortura que alguém se aproximasse vindo dos bastidores ou da plateia para o acordar do pesadelo. Merecia que um pintor captasse o seu rosto, o rosto de quem contempla a catástrofe de ver a realidade no seu esplendor de coisa outra. Súbito, descobria com horror que o Universo não estava assim tão interessado no que lhe pudesse acontecer e qual viesse a ser o seu destino político. A última imagem captada do destroçado Fernando, já na rua de mão dada à esposa, confundia-se com a de um gaseado da Guerra de 14-18 que estivesse a regressar da linha da frente. Oh, the humanity! (...)" (há incontáveis luas que não espreitava este cubículo e só agora me apercebo do quanto terei andado a perder)
7 comments:
Isto é poesia.
Obrigatoriamente a não perder.
"A catástrofe de ver a realidade no seu esplendor de coisa outra" é um naco de prosa poética de ofuscante magnificência.
Sem dúvida.
Este outra como adjetivo tem qualquer coisa de pessoano. A ideia de a coisa se outrar...
Há comentários ainda mais homéricos:
"Não, não estou a pôr Medina no mesmo patamar de Churchill, estou só a comparar as duas situações, o inesperado de alguém que faz um bom trabalho não ser o mais votado para o cargo."
Um pessoa indigna-se com as injustiças, indigna-se mesmo.
Digno de Nobel da Literatura
Pedro Cunha
"(...) Medina apareceu para as declarações da praxe trazendo um homérico olhar de espanto."
Até a essa Nádia Comaneci literária, que é a Agustina, terão escapado os convolutíssimos homéricos olhares, mormente os espantados. Mas, dada a qualidade da tirada, talvez se refira à tradição que nos pinta Homero como sendo ceguinho.
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